Ela morreu de quê? De tubarão.




Não, isso não é uma piada. Por favor, não ache graça do título, porque de engraçado ele não tem nada. A causa da morte de uma mulher nessa última semana aqui no Maine, em Bailey Island, a pouquíssimos quilômetros de onde moramos e trabalhamos, foi um ataque de tubarão. O segundo ataque de tubarão de toda a história do estado. O primeiro ataque fatal de tubarão.

O primeiro ataque fatal de tubarão no estado.

Claro que escrevendo assim é mais uma notícia de fatalidade, afinal morre tanta gente todos os dias, não é? E ataque de tubarão é coisa comum em várias partes do mundo, acontece ainda. Mesmo com toda parafernália que temos de tentar controlar o mundo, colocar plaquinhas de GPS nos animais estudados, medir as correntes, as temperaturas, os costumes e hábitos de todo os seres viventes. 
Mesmo com toda tecnologia criada para estudar tudo e mais um pouco, uma mulher morreu de ataque de tubarão semana passada aqui pertinho.
Ninguém morreu antes dela. Ninguém, numa sucessão de dias, meses e anos. Ela foi a primeira.
Ela não estava fazendo nada de mais. 63 anos. Nova de tudo. Trabalhava com moda em Nova Iorque e tinha se aposentado. Queria passar mais tempo com a família. Vida tranquila, tinha uma casa em Nova Iorque e outra no Maine. Resolveu cair no mar gelado do Casco Bay com a filha. Sim,  filha nadava com ela e o tubarão resolveu atacar ela, não a filha. Dizem que é porque ela estava usando um colete de flutuação (a filha, não) e o tubarão pode tê-la confundido com uma foca, muito comum aqui também, e comida boa para o tubarão.

Hahahahahaahahaha, o tubarão a confundiu com uma foca! 

Os nossos arrogantes estudos dizem que os tubarões são os seres com o olfato mais desenvolvido abaixo da água. Eles sentem cheiro de sangue há distância e são atraídos por ele (segundo a Wikipedia eles podem cheirar uma gota de sangue no oceano a 300 metros de distância. Tem ideia?). Então como é que um bicho com um olfato super desenvolvido desses não iria sentir que o cheiro de corpo humano é bem diferente do cheiro de uma foca, mesmo no mar? 

Onde eu quero chegar? Oras, quero dizer que não sabemos nada. Coisica de nada. Nadica de nada. E ficamos nos achando o tempo todo, achando que nossos sistemas funcionam, achando que está tudo sob controle, achando que vamos sempre encontrar as soluções para tudo. 

Mas a questão é bem essa. Continuamos a ter mais perguntas e as respostas que vamos encontrando como humanidade, são pífias, tão instáveis como a corda-bamba. 

No meio de uma pandemia que já matou mais de 600 mil pessoas no mundo todo, a mulher morreu de ataque de tubarão, num mar onde nunca houve ataques fatais em toda a história registrável. 

E a gente fica se perguntando como todo mundo que está em luto pelos seus mortos hoje: porque ela? porque desse jeito? Porque logo agora teríamos o primeiro ataque de tubarão, no meio de uma pandemia? Quem regula isso tudo? Quem decide quem morre e quem vive? 

Há os que acreditam no destino. Estava já determinado antes dos tempos que a fashionista de Nova Iorque viria para essa terra, faria mundos e fundos com a vida dela, mas um tubarão acabaria com tudo isso no meio de um mergulho no mar, no Maine, no último estado láaaa da ponta dos EUA perto do Canadá. Sim,o destino, um tipo de roteiristas pior que o chapeleiro louco da história da Alice, decidiu quando essa senhora nasceu que ela morreria de tubarão no meio de uma pandemia mundial. E também decidiu que gente passaria fome e que a ciência humana não encontraria solução para isso, porque estaria inserida num sistema muito cruel em que alguns têm demais e outros têm de menos. 

Aos crentes em um poder maior. Foi Deus que assim quis. Arram. Acreditamos em um Deus que tem um plano mirabolante de sensibilizar os seres humanos para o que é realmente importante na nossa vivência que sai por aí matando gente, de pandemia e de tubarão, porque ele é Deus, ele sabe e é da vontade dele. 

Livre-arbítrio. Ateístas e incrédulos diriam que ela foi culpada por ter morrido de tubarão. Ela que estava mergulhando com um colete para estar salva em um lugar em que NUNCA  antes houve um ataque de tubarão.

Que tempos são esses? Esses tempos, de todos os tempos em que procuramos explicação para tudo, encontramos umas merrecas, achamos que controlamos tudo e vivemos nessa ignorância miserável, maquiada de uma arrogância de saberes que surpreende sempre. Ah, descobriram o tipo de tubarão que fez o ataque por um pedaço de dente encontrado na vítima. Era um tubarão branco. A entrevista com o biólogo foi definitiva:
- vi claramente que aquele era um dente de tubarão branco. 

Isso, palmas para a nossa ciência. Essa mesma que não conseguiu impedir o Holocausto de acontecer, a Bomba de Hiroshima de ser usada, as pestes e agora as pandemias de nos assolar, a fome e desigualdade de ser uma constante na nossa existência.
E o que é um tubarão no meio de tanta ignorância, não é? 

No fundo, somos uma piada pronta como humanidade. Em alguma outra dimensão outros seres devem estar assistindo tudo isso comendo pipoca e comentando:
- Quem iria imaginar essa virada no roteiro e ela morrendo com um ataque de tubarão, hein?


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