Amarga como um limão

 


tres limoes


Em menos de três dias eu completo 50 anos e dessa vez a idade me pegou. 

No final das contas não sei bem se é a idade, a menopausa (inclua-se as primas peri e pos menopausa porque como a maioria das mulheres eu não tenho ideia em qual delas estou), ou o novo tipo de terapia que tem acordado uns fantasmas do passado. 

A verdade é que nunca passei tanto tempo assim insuportável, com um amargor que nem me aguento. 

Não, não é depressão ainda porque estou funcional, ainda acordo todas as manhãs e parece que tenho sido uma atriz muito competente em sala de aula, mas a alegria que eu sempre sentia com as pequenas coisas anda rareando e muito. 

Tenho muitas reclamações, muitas mesmo. 

Tenho dores tanto na alma quanto em diversas partes do corpo, tenho pânico quando acordo no meio da noite e penso no que tenho que fazer. 

Tenho uma tristeza profunda de saber que em 50 anos pouco mudou e muito ser regrediu nesse mundo. Penso na insanidade que é ainda vivermos em guerras - sendo transmitidas simultaneamente pelas mídias sociais. Penso no quanto as mulheres ainda precisam continuar brigando para ter o mínimo de direitos. Penso nos negros, nos não-binários, sendo mortos todos os dias só por serem. 

E falo aqui somente da realidade, porque não posso escolher ver outra quando é essa que é real e escancarada no meu nariz todos os dias. Porque se formos falar de ficção, eu tenho fugido correndo de produções como o Conto de Aia. Não aguento. Aos 50, não sei se foi a voternidade, mas a verdade é que ando mais sensível do que nunca, e tudo tem me machucado.  Até o tempo lá fora. Se está cinza, eu fico ainda mais cinza aqui dentro de mim. Se está ensolarado, fico pensando até quando. 

É, eu sei amarga. Como disse, eu não tenho me aguentado.

A choradeira tem corrido solta também. Praticamente todo dia eu choro por alguma coisa. Se não é dor física, é dor da alma ou é qualquer outra coisa que me seja apresentada de um jeito meio assim. Até propaganda de margarina, como dizia meu querido Zeca Baleiro.

Mas esses dias cheguei à conclusão que a culpada é essa vida que atropela e não tem me deixado colocar aqui na tela ou no papel esse rio de emoções que escorre em mim. E deu no que deu. Amargou, fermentou tudo aqui dentro. 

Não sei se é por causa dos 50, da meno-peri-pos-pausa, se é o trabalho, a realidade. Ando já há algum tempo amarga como um limão. 

O que me salva é que dentro de mim há uma menininha de trança no cabelo e olhar curioso que sussurra no meu ouvido: agradece. Olha que vida fantástica você teve até aqui. Imagina as maravilhas que virão!

E aí eu sorrio. Só um pouco. Amargamente. Mas sorrio.





Aqui um flamenco que combina bem com meu amargor...




Comentários

  1. bora fazer uma caipirinha com esses limões aí. beijos

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    1. Isso! Vou começar a tomar banho de cachaça com açúcar. Quem sabe dá boa, né? beija!

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  2. Minha querida! Seja bem-vinda à sua nova era. Eu entrei na menopausa em 2010. Tinha 49 anos. São muitas mudanças, mas sempre que elas te incomodarem, pense que não vai precisar mais de absorvente! Quanto à amargura, estamos iguaizinhas. Muito sofrimento e maldade pelo mundo. Tanto que estou de luto até hoje no Facebook e Instagram. Estarei por aqui. Beijas.

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    1. Ô mulher, vi seu comentário só agora. Obrigada pelo apoio. As coisas estão bem melhores. Sempre que tiro do peito e ponho aqui elas amenizam. Preciso escrever a continuidade. Beijas imensas.

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