Eu tenho quatro afilhados. Exato. Quatro casais foram loucos o suficiente para prometer em juízo religioso que se eles faltarem eu serei umas das pessoas responsáveis por encaminhá-los na vida.
E a responsabilidade pesa muito. Porque você olha para a sua vida e nota que foi um super lance de sorte que seu filho se encaminhou de um jeito mais ou menos decente. Está andando com as próprias pernas entre os problemas da vida, e você olha e respira fundo: ufa! Consegui não esculhambar com a vida de alguém.
Mas aí vem os sobrinhos. E, antes deles os afilhados. Meu, como faz?
Pois bem, como todo ser humano faz, a gente repete o ciclo, vai plantando exemplo do que já viu. A gente tenta ser aquilo que a gente diria para eles serem. Não sem errar muito. E não sem falar muito palavrão em cada erro. E depois rezar fervorosamente para que aquela Mãe Deusa que fez tudo o que há entre o céu e a terra coloque o dedão no meio da vida deles e os vá encaminhando já que você é pequena demais, falível demais. Pede ajuda, né?
Na verdade, eu olho muito para meus padrinhos, tanto de batismo quanto de crisma. Tive, sim, os dois sacramentos. Um por herança, e a escolha dos padrinhos não poderia ter sido melhor. E a outra por escolha, na qual eu mesma escolhi minha madrinha. Que hoje já é fada-madrinha. Está voando com uma vassoura mágica em algum lugar de outra dimensão. Porque ela nunca foi só fada-madrinha. Foi muito bruxa, das que tinha ervas de todo o jeito para curar desde unha encravada até oração forte para expulsar vizinho chato do prédio. Sim, ela morava no apartamento de cima do meu e foi muito próxima do meu crescimento e das crises imensas pelas quais passei. Tive muita raiva dela também, várias vezes, principalmente na adolescência porque ela agia como a minha mãe. Hoje, (ah, sempre assim), hoje, eu a entendo. Entendo que houve muitas situações em que ela fechou os olhos só para não brigar com a pimenta aqui. Em outras que se posicionou mesmo que isso me doesse ou a ela.
Já meus padrinhos de batismo sempre foram refúgio, um colo imenso. Além de ferrenhos ativistas. Lembro que fugi de casa umas duas vezes - uma delas casada - e foi para lá que fui. O que sempre completou essa sensação de segurança é que a minha melhor amiga é filha deles. Então posso dizer que essa coisa de querer justiça, de não entender as diferenças sociais tão agudas que temos e me sentir envolvida sempre, tem muito da culpa deles. Sempre estiveram envoltos com a comunidade, ajudando do jeito que podiam todo mundo.
E é nesse movimento de olhar pelos meus afilhados, que fico pensando que tipo de madrinha eles merecem. Eu sou muito os meus padrinhos. Mais do que sou meus pais, eu diria. Então fico pensando o que posso plantar para meus afilhados, mesmo dessa distância enorme.
Eu preciso dizer a eles que eles possuem colo certeiro, sempre que precisarem. E ando tentando jeitos diferentes de mostrar isso para eles. Desde que seja rezando muito para se encaminharem, até mandando cartinhas.
Sei que estão crescendo com valores decentes. Sei que cada um tem personalidades que estão aflorando independente do que os pais façam. Porque eles são eles. E cada um tem um jeitinho de ser que precisa ser respeitado. Um, o mais velho de todos, ainda se busca como profissional. Tenho tido conversas via facebook para ajudar a impulsionar o vôo, mas sei que preciso respeitar o livre-arbítrio e o tempo. Mas digo que ele consegue, se assim quiser. O outro deu show de candura na última vez que nos vimos pessoalmente e abrilhantou uma tarde cansativa quando resolveu me contatar pelo telefone do pai para comentar o jogo de futebol entre Brasil e EUA. Sua personalidade não é das mais fáceis, mas se eu pudesse escolher, manteria exatamente assim, mesmo fazendo a mãe dele louca às vezes.
A sobrinha afilhada, por notícias que recebi, ganhou o prêmio de melhor aluna da classe e deixou claro que gosta e quer ganhar flores. Tem sabido se posicionar brilhantemente no seu jeito de ser. A que está mais distante de mim, na longínqua Nova Zelândia, sinto como a mais próxima pelo esforço da mãe em contar dos seus feitos e fazer os face-time. Diz que a filha tem uma tendência em sempre cuidar dos coleguinhas que mais precisam e um temperamento não dos mais pacíficos. Diz que ela tem muito da madrinha... Pelo jeito, apadrinhamentos, no sentido bom da palavra, devem ser mesmo hereditários. Se assim forem, tenho a obrigação moral de ser bom exemplo. Ou pelo menos um exemplo decente, que sobreviva sem pisar os outros.
Assim, aos meus padrinhos eu envio meu agradecimento eterno pelo amor a mim destinado e pelo fabuloso exemplo que são.
Para a fada-bruxa-madrinha peço para me acompanhar. Como tem feito. Aliás, sem ter muita consciência, esse ano fiz uma "árvore" de Natal igual a que ela fazia. Irritada com tanta árvore sendo cortada para servir de decoração por um mês somente, e pelas últimas duas plantadas não terem sobrevivido ao frio do Maine, decidi ressignificar um galho que serviu de morada e sombra e que merecia ser árvore de Natal. Minha mãe, vendo minha decisão comentou: - igual sua madrinha fazia. Ela sempre enfeitava galhos de Natal.
Pois é, amadrinhamentos podem ser hereditários. God save my godchildren, then...
E a responsabilidade pesa muito. Porque você olha para a sua vida e nota que foi um super lance de sorte que seu filho se encaminhou de um jeito mais ou menos decente. Está andando com as próprias pernas entre os problemas da vida, e você olha e respira fundo: ufa! Consegui não esculhambar com a vida de alguém.
Mas aí vem os sobrinhos. E, antes deles os afilhados. Meu, como faz?
Pois bem, como todo ser humano faz, a gente repete o ciclo, vai plantando exemplo do que já viu. A gente tenta ser aquilo que a gente diria para eles serem. Não sem errar muito. E não sem falar muito palavrão em cada erro. E depois rezar fervorosamente para que aquela Mãe Deusa que fez tudo o que há entre o céu e a terra coloque o dedão no meio da vida deles e os vá encaminhando já que você é pequena demais, falível demais. Pede ajuda, né?
Na verdade, eu olho muito para meus padrinhos, tanto de batismo quanto de crisma. Tive, sim, os dois sacramentos. Um por herança, e a escolha dos padrinhos não poderia ter sido melhor. E a outra por escolha, na qual eu mesma escolhi minha madrinha. Que hoje já é fada-madrinha. Está voando com uma vassoura mágica em algum lugar de outra dimensão. Porque ela nunca foi só fada-madrinha. Foi muito bruxa, das que tinha ervas de todo o jeito para curar desde unha encravada até oração forte para expulsar vizinho chato do prédio. Sim, ela morava no apartamento de cima do meu e foi muito próxima do meu crescimento e das crises imensas pelas quais passei. Tive muita raiva dela também, várias vezes, principalmente na adolescência porque ela agia como a minha mãe. Hoje, (ah, sempre assim), hoje, eu a entendo. Entendo que houve muitas situações em que ela fechou os olhos só para não brigar com a pimenta aqui. Em outras que se posicionou mesmo que isso me doesse ou a ela.
Já meus padrinhos de batismo sempre foram refúgio, um colo imenso. Além de ferrenhos ativistas. Lembro que fugi de casa umas duas vezes - uma delas casada - e foi para lá que fui. O que sempre completou essa sensação de segurança é que a minha melhor amiga é filha deles. Então posso dizer que essa coisa de querer justiça, de não entender as diferenças sociais tão agudas que temos e me sentir envolvida sempre, tem muito da culpa deles. Sempre estiveram envoltos com a comunidade, ajudando do jeito que podiam todo mundo.
E é nesse movimento de olhar pelos meus afilhados, que fico pensando que tipo de madrinha eles merecem. Eu sou muito os meus padrinhos. Mais do que sou meus pais, eu diria. Então fico pensando o que posso plantar para meus afilhados, mesmo dessa distância enorme.
Eu preciso dizer a eles que eles possuem colo certeiro, sempre que precisarem. E ando tentando jeitos diferentes de mostrar isso para eles. Desde que seja rezando muito para se encaminharem, até mandando cartinhas.
Sei que estão crescendo com valores decentes. Sei que cada um tem personalidades que estão aflorando independente do que os pais façam. Porque eles são eles. E cada um tem um jeitinho de ser que precisa ser respeitado. Um, o mais velho de todos, ainda se busca como profissional. Tenho tido conversas via facebook para ajudar a impulsionar o vôo, mas sei que preciso respeitar o livre-arbítrio e o tempo. Mas digo que ele consegue, se assim quiser. O outro deu show de candura na última vez que nos vimos pessoalmente e abrilhantou uma tarde cansativa quando resolveu me contatar pelo telefone do pai para comentar o jogo de futebol entre Brasil e EUA. Sua personalidade não é das mais fáceis, mas se eu pudesse escolher, manteria exatamente assim, mesmo fazendo a mãe dele louca às vezes.
A sobrinha afilhada, por notícias que recebi, ganhou o prêmio de melhor aluna da classe e deixou claro que gosta e quer ganhar flores. Tem sabido se posicionar brilhantemente no seu jeito de ser. A que está mais distante de mim, na longínqua Nova Zelândia, sinto como a mais próxima pelo esforço da mãe em contar dos seus feitos e fazer os face-time. Diz que a filha tem uma tendência em sempre cuidar dos coleguinhas que mais precisam e um temperamento não dos mais pacíficos. Diz que ela tem muito da madrinha... Pelo jeito, apadrinhamentos, no sentido bom da palavra, devem ser mesmo hereditários. Se assim forem, tenho a obrigação moral de ser bom exemplo. Ou pelo menos um exemplo decente, que sobreviva sem pisar os outros.
Assim, aos meus padrinhos eu envio meu agradecimento eterno pelo amor a mim destinado e pelo fabuloso exemplo que são.
Para a fada-bruxa-madrinha peço para me acompanhar. Como tem feito. Aliás, sem ter muita consciência, esse ano fiz uma "árvore" de Natal igual a que ela fazia. Irritada com tanta árvore sendo cortada para servir de decoração por um mês somente, e pelas últimas duas plantadas não terem sobrevivido ao frio do Maine, decidi ressignificar um galho que serviu de morada e sombra e que merecia ser árvore de Natal. Minha mãe, vendo minha decisão comentou: - igual sua madrinha fazia. Ela sempre enfeitava galhos de Natal.
árvore galho de Natal. Herança da madrinha. |
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