Eu acordei chorando e não conseguia parar. Foi agora a pouco. Estava organizando na minha cabeça a informação de que tinha sido um sonho, mas o sentimento de perda, de arrependimento, de tristeza profunda foi tão grande que ainda chegam lágrimas aos olhos.
Meu pai diria: foi só um sonho!
Mas, que tipo de sonho é esse em que os sentimentos são tão fortes, tão duradouros que a gente sofre com eles por um dia todo, até dormir de novo? Não é a primeira vez. Por muitas vezes fiquei pensando em pessoas com as quais não falo há anos, ou ainda com raiva de alguém o dia todo, tipo do padeiro, porque no sonho eu tinha brigado por uma oferta. Era só um sonho... mas porque essa "sensação" de realidade segue a gente durante um dia ou mais?
Há sonhos que reverberam até hoje, cujas imagens continuam ainda plasticamente claras...
Nesse, meu amigo Louis tinha morrido. Mas além de ter sido uma morte super de repente, foi super assim só para nós. Ele estava doente. Não contou para ninguém. Estava organizando a vida com seu marido Letier de um jeito lindo. Construíram uma casa com jardim enorme, estavam realizando os sonhos de artes de ambos: um fotógrafo o outro escultor. Tinham tomado decisões corajosas de abraçar a vida com tudo que ela tinha para oferecer. Minha vó diria: tinham a vida toda pela frente. A questão era essa: um estava vivendo esse "sonho", o outro estava sorvendo as últimas gotas de vida que possuía com toda a vontade do mundo, porque sabia que não havia mais nada pela frente. Pelo menos para ele.
E ele não queria nublar essa fase linda de todo mundo. Todo mundo com projetos, com futuros sonhados em realidade. Por isso, calou. Foi planejando sua ida sozinho.
E eu chorava muito no sonho. Chorava porque ficava pensando na solidão dessa viagem dele. Na solidão de se planejar sozinho essa viagem sem volta. Nos medos e dúvidas que ele teve sozinho.
Assistindo o marido em choque, lentamente caminhando e me contando que tinha sido no dia anterior que ele não acordara, que ele gostava daquela parte da casa, que era ali que ele estudava, que agora ele entendia determinadas decisões... eu lembrava de Louis me contando que preferia deixar a casa no nome de Letier. E eu dizia: mas ele quer isso? Ele falava: ele não vai saber. E eu respondia: acho que ele tem direito de saber, sim...
No fundo todos tínhamos o direito de saber, poxa. E ele tinha direito de não contar, afinal era ele que estava indo embora. A viagem era só dele.
Falei com outros amigos, ainda no sonho. Avisei do velório. Nos reunimos na casa deles. Mas aquela sensação de: queria ter dado um abraço, não saía de mim. Era um misto de sentir a solidão dele e arrependimento por não ter aproveitado seus últimos meses junto.
Perda. Eu tinha perdido um amigo, tinha perdido momentos e tinha perdido a liberdade de decidir como ia lidar com a ida dele. Mas o pior sentimento foi o de impotência. De não ter conseguido amenizar aquela solidão dele.
Eu assistia ao choque do marido que estava, com todo o direito, muito pior do que eu. Ele tentava digerir. Não tinha raiva. O amor era uma marca de ambos e ele tentava recordar de todos os momentos em que seu companheiro deu sinais do que ia acontecer. Ele caminhava pela casa, lento, pensativo, e contava história aleatórias sobre os objetos que ali estavam, sobre uma última mudança naqueles móveis, sobre um livro que estava sendo lido. Não chegava a estar catatônico, mas o pensamento ia looonge. Não chorava. Eu chorava. Muito.
O grupo de amigos chegou. Ficamos no jardim esperando os rituais do velório e enterro. Alguém resolveu tirar uma foto. Ela iria junto no caixão, para mostrar que essa viagem não se fazia por todo só.
Se não conseguimos dar suporte em vida, iríamos junto, para a outra vida. Nem que fosse simbolicamente.
Acordei. Estou chorando até agora. E sei vou arrastar essa sensação o dia todo. Vou precisar dizer para mim, por várias vez: não, ele não morreu. Foi um sonho. Mas a agonia vai me acompanhar. Até eu dormir de novo.
Meu pai diria: foi só um sonho!
Mas, que tipo de sonho é esse em que os sentimentos são tão fortes, tão duradouros que a gente sofre com eles por um dia todo, até dormir de novo? Não é a primeira vez. Por muitas vezes fiquei pensando em pessoas com as quais não falo há anos, ou ainda com raiva de alguém o dia todo, tipo do padeiro, porque no sonho eu tinha brigado por uma oferta. Era só um sonho... mas porque essa "sensação" de realidade segue a gente durante um dia ou mais?
Há sonhos que reverberam até hoje, cujas imagens continuam ainda plasticamente claras...
Nesse, meu amigo Louis tinha morrido. Mas além de ter sido uma morte super de repente, foi super assim só para nós. Ele estava doente. Não contou para ninguém. Estava organizando a vida com seu marido Letier de um jeito lindo. Construíram uma casa com jardim enorme, estavam realizando os sonhos de artes de ambos: um fotógrafo o outro escultor. Tinham tomado decisões corajosas de abraçar a vida com tudo que ela tinha para oferecer. Minha vó diria: tinham a vida toda pela frente. A questão era essa: um estava vivendo esse "sonho", o outro estava sorvendo as últimas gotas de vida que possuía com toda a vontade do mundo, porque sabia que não havia mais nada pela frente. Pelo menos para ele.
E ele não queria nublar essa fase linda de todo mundo. Todo mundo com projetos, com futuros sonhados em realidade. Por isso, calou. Foi planejando sua ida sozinho.
E eu chorava muito no sonho. Chorava porque ficava pensando na solidão dessa viagem dele. Na solidão de se planejar sozinho essa viagem sem volta. Nos medos e dúvidas que ele teve sozinho.
Assistindo o marido em choque, lentamente caminhando e me contando que tinha sido no dia anterior que ele não acordara, que ele gostava daquela parte da casa, que era ali que ele estudava, que agora ele entendia determinadas decisões... eu lembrava de Louis me contando que preferia deixar a casa no nome de Letier. E eu dizia: mas ele quer isso? Ele falava: ele não vai saber. E eu respondia: acho que ele tem direito de saber, sim...
No fundo todos tínhamos o direito de saber, poxa. E ele tinha direito de não contar, afinal era ele que estava indo embora. A viagem era só dele.
Falei com outros amigos, ainda no sonho. Avisei do velório. Nos reunimos na casa deles. Mas aquela sensação de: queria ter dado um abraço, não saía de mim. Era um misto de sentir a solidão dele e arrependimento por não ter aproveitado seus últimos meses junto.
Perda. Eu tinha perdido um amigo, tinha perdido momentos e tinha perdido a liberdade de decidir como ia lidar com a ida dele. Mas o pior sentimento foi o de impotência. De não ter conseguido amenizar aquela solidão dele.
Eu assistia ao choque do marido que estava, com todo o direito, muito pior do que eu. Ele tentava digerir. Não tinha raiva. O amor era uma marca de ambos e ele tentava recordar de todos os momentos em que seu companheiro deu sinais do que ia acontecer. Ele caminhava pela casa, lento, pensativo, e contava história aleatórias sobre os objetos que ali estavam, sobre uma última mudança naqueles móveis, sobre um livro que estava sendo lido. Não chegava a estar catatônico, mas o pensamento ia looonge. Não chorava. Eu chorava. Muito.
O grupo de amigos chegou. Ficamos no jardim esperando os rituais do velório e enterro. Alguém resolveu tirar uma foto. Ela iria junto no caixão, para mostrar que essa viagem não se fazia por todo só.
Se não conseguimos dar suporte em vida, iríamos junto, para a outra vida. Nem que fosse simbolicamente.
Acordei. Estou chorando até agora. E sei vou arrastar essa sensação o dia todo. Vou precisar dizer para mim, por várias vez: não, ele não morreu. Foi um sonho. Mas a agonia vai me acompanhar. Até eu dormir de novo.
Texto sublime minha amiga. Sonhos são assim. Alguns são mais marcantes que outros quando parecem tão reais. Mas ao fim, bons ou maus, são apenas sonhos. Este, ainda que triste, tem toda uma linda simbologia. Bravo!!!
ResponderExcluirPois então, eternalizou... <3
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