Tem umas
duas toneladas de coisas que eu preciso contar sobre a ongoing experiência de
viver fora do meu país. E fiquei me enrolando esses quase 4 meses aqui para
escolher qual seria o primeiro assunto a ser explanado aqui. Bem, acho que
encontrei um match de dois deles. Então vou contar das minhas “papagaiadas”
aprendendo o inglês.
Tem gente
que acha que porque consigo fazer DR com o marido em inglês eu sou super
fluente, consigo nadar de braçada na língua e tals. Nada! Se no Brasil eu já
tinha dificuldade em xingar ele de um jeito entendível aqui a coisa só piorou.
É muita coisinha do dia a dia que não explicam nas escolas de inglês: tea pot,
coaster, tea kettle, china (porcelana!!), sweep the floor, mop the floor,
dust... Esses foram alguns exemplos para referenciar a um dos meus trabalhos aqui: no B&B da
família ou no Inn (ninguém nunca me ensinou que hotel poderia ser um Inn
também, apesar da gente ver muito nos nomes de hoteis por aí...).
Pois bem,
nesse aprendizado de detalhes cotidianos, eu resolvi preparar a galera e sair
perguntando as coisas como se fosse uma criança de 4 anos. No meio do trabalho,
eu pegava o pires, ia para a minha “chefe” no hotel e perguntava: como se chama
isso?
- saucer.
- Mas
saucer não é para molho?
- Not only. This is a saucer.
- Hum, ok.
Tem dois saucers quebrados ali. Vou trocar por outros da cozinha, ok?
- Ok, go
ahead.
E assim vai
com quase tudo que você faz. Mas para uma pessoa “paciente” para caramba como
eu, ficar perguntando as coisas no meio do fazer é um parto de cócoras com
fórceps. Além disso, tem horas que você não quer perguntar coisa alguma no meio
de uma conversa dos outros porque isso interrompe toda a fluência da estória.
Então você balança a cabeca e ri quando todo mundo está rindo e torce para ter
entendido que era para rir mesmo... Mais tarde, indo para casa, você pergunta
ao marido:
- Aquela história que seu tio estava contando
sobre seu pai era sobre quando ele correu atrás do ônibus da escola com um
coiso de comer na mão? Eu entendi direito?
- Sim, era.
-Como era o
nome mesmo do coiso de comer?
- Whoopie
pie.
- Ah, sim, whoopie pie. E o que é isso?
- É tipo
uma torta que se parece com um biscoito recheado. É tradicional daqui.
- Ahhhh,
tá. E do que é feito?
- De chocolate
e dentro tem uma vanilla frosting.
- Frosting?
É congelado?
- Não, é o
jeito que chamamos uma cobertura de bolo específica feita de açúcar e algum
creme.
- Hum, só
tem desse sabor?
-Não, tem
de outros também. Eu te mostro um dia desses.
- Ok. E o que
é popover?
- Outro
tipo de uma coisa de comer. Eles colocam geleia.
- Hum.
Pois então,
é assim. Quando você perde uma palavrinha em uma estória que está sendo contada
e busca explicações, isso pode te levar para um diálogo de horas. Tudo, ainda,
num inglês possível, acessível. Nessas horas você agradece por
ter o marido mais paciente do mundo.
Pois bem,
uma das coisas muito claras que tenho em mente é que preciso melhorar muuuuito
meu inglês. Porque me agonia ficar boiando em algumas coisas. Ainda mais quando
o objetivo é dar aula, no mínimo, você precisa saber se explicar sem parecer
uma criança de 7 anos aprendendo a escrever.
Então que
você liga a tv e coloca as legendas em tudo.
Você lê
tudo que está na sua frente.
Você
conversa um monte. Com qualquer pessoa. E deixa fazerem piadas com a sua
pronúncia.
Bem, no
meio desse improvement linguístico, eu consegui mais um emprego temporário para
dezembro: numa loja de presentes. Achei super legal a possibilidade de treinar
meu inglês com os turistas, trocar mais, saber mais. Mas posso dizer que deu um
frio na barriga quando vi a quantidade de mini-coisinhas que a loja tinha.
"Cara, como
é o nome disso tudo?"
"Como chamam esse coisinhos de pedra-sabão que
se coloca no meio da mesa????? Bah, pensei. Não sei os nomes disso nem em
português... Mas vamos lá."
- Hum,
então você vai viajar para encontrar sua família?
- Vou. Por
isso estão pedindo para você ficar na loja em dezembro.
- Hum, sei.
E você é daqui?
- Sim, mas
faço faculdade em DC.
- Legal, do
que?
- Letras,
espanhol.
- Ótimo! Já
que você está estudando línguas, posso te perguntar algumas coisas?
- Claro.
- O nome
disso é necklace?, arram, earing?, arram, ring?, arram, pendant?, arram, and
this?
- ornament.
-Ornament?
Assim, só isso?
- arram.
- Ok.
E foi assim
o primeiro dia na loja. Mas eu estava tranquila, porque o casal-dono estava ali
e a outra vendedora era assim, uma fofa. Até a hora em que eu estava no
caixa, perto de uma árvore cheia de passarinhos de feltro e chega uma
cliente olhando para os bichinhos decorativos e pergunta
diretamente para mim:
- Você tem um raven or crow?
Eu fiquei
um tempão tentando entender que diacho ela tinha me perguntado. Por dedução (2+2=4),
em uns 15 segundos, eu imaginei que ela estava perguntando sobre algum tipo de
passarinho. Tentei me certificar:
-which kind of bird are you talking about?
- A raven, really
similar to a crow.
Eu respire.
Era sobre pássaros que ela falava mesmo. A minha chefe que ouvia tudo, veio em
meu socorro avisando que não havia mais daqueles pássaros no estoque.
Eu
perguntei para ela, depois, o que era um raven (o crow era o corvo que eu vi
aos montes aqui) e ela me explicou que era um pássaro muito parecido com o
crow. Respirei.
Respirei
porque essa coisa de dedução não funciona sempre.
Umas duas
semanas antes eu estava com o meu pai sentada em um banco, perto do pier, na
frente do mar, depois de caminhar com a Pandora, quando uma senhora chegou
perto e disse:
- I´m trying to call the loon and he doesn´t answer.
Tentei juntar
lé com tré rapidinho. A senhora era simpática, estava vindo daquele lado onde
um monte de velhinhos estavam em um grupo, devem ser amigos, ela deve estar
tentando ligar para algum deles. Seria muito ruim eu fazer cara de “não sei”
para ela. Tão simpática. Mas eu não tinha ideia do que seria o tal do amigo
dela loon. Lembrei que quando chamam alguém de louco é looney, então ela
deveria estar chamando assim, carinhosamente, algum amigo da excursão. Tudo
isso aconteceu enquanto ela olhava para mim sorrindo, relaxada, de costas para
o pier... E meu pai me olhava do outro lado, esperando a minha resposta. Eu
tinha que fazer bonito. Respondi:
- Well, maybe his cel phone is not working...
Ela riu
alto, eu ri sem graça (porque eu não tinha ideia porque ela tinha rido) e ela
andou um pouco mais. Virou para o mar e começou a fazer um som fechado, como um
u, olhando para a água. Ali ao longe, eu avistei um grupo daqueles patos pretos,
boiando no mar... Eram os loons.
Depois
expliquei para o meu pai que, absolutamente sem querer, eu tinha feito minha primeira piada em inglês.
Ai a mulher trying to call the loons me partiu no riso aqui!! I completely feel you, dear. Comecei a trabalhar em um salão de bronzeamento artificial e em um mês ja me fizeram gerente. Confortável com o inglês? É.. me sinto.. mas minha maior barreira é entender o sotaque Texano.. Queria ir te ver e conversar por uma tarde inteira! Means so much! <3
ResponderExcluirEeeeeeeeeeeeeeeeeeee, daremos um jeito. Vc precisa vir aqui para a minha ilha. E quando digo, PRECISA, é de precisar mesmo. Coisa linda de morrer isso daqui e vou continuar dizendo mesmo com o pessoal me assustando horrores sobre a neve... Pelo jeito vc tem altas news pra me contar, hein? Charlemos, por favor!
ExcluirKkkk - é tão bom quando a vida é divertida.
ResponderExcluir:) Né?
ExcluirJá fiquei feliz de entender a piada com a velhinha
ResponderExcluirViu só? ;)
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