Estava
lavando as taças que eu e meu filho usamos para tomar vinho agora a pouco. E eu
tinha implicado com ele que havia uns fiapinhos de pano de louça nelas quando
ele serviu o vinho...
Aí um
dejavu do tamanho de uma bigorna caiu em mim. Na verdade não foi dejavu, foi
memória mesmo. Como se por uns segundos eu tenha voltado ao passado. E voltei!
Voltei numa época em que a minha mãe tinha guardado um monte de dinheiro para
poder finalmente fazer algo decente na casa. Compras uns móveis legais. E eu
insisti que ela precisava ter um “bar” na sala. Gente, nossa família nunca
bebeu. A mãe, assistente social, vivia tendo que encaminhar gente com
alcoolismo para tratamento e era a última coisa que ela queria que acontecesse
na casa dela. Então, mesmo que meu pai comprasse uma garrafa de vinho ou algo
similar, ia tudo ralo abaixo. Ela jogava fora mesmo. Beber era praticamente como fazer
sexo na frente de todo mundo. Um pecado.
Porque
cargas d´água ela me ouviu na hora de comprar os móveis eu nunca vou entneder.
Ouviu uma adolescente contaminada pelas novelas (indústria cultural manda
lembranças) em que havia um bar na sala de todo mundo, e que queria também um
bar em casa. Eu nem bebia! Ou, de repente, eu sempre tive essa “bêbada” dentro
de mim e não sabia.
Pois bem,
ela comprou o conjunto de mesa, balcão, sofás e o tal do bar. Nem coube direito
no apartamento, mas estava tudo lá. O bar dava para entrar dentro. Tinha luz
direcionada. E prateleiras de vidro, com um espelho atrás. Era da mesma cor da
madeira do restante dos móveis, uma cerejeira envernizada. E o bar tinha um
teto – onde aquela luz direcionada estava – onde as taças eram penduradas.
Minha mãe comprou um imenso conjunto de taças. Para tudo: frizante, vinho,
conhaque, licor... Liiiiiinddasss!! E a gente não usou nem 10% delas. O problema
é que elas ficavam penduradas pelo pé – chiiiiqueeeee – nesse teto do bar, e
com o tempo, claro, que pegavam um pó e o cristal ficava meio esbranquiçado. Adivinha quem foi designada para lavar as
taças toda sexta-feira? Pois é, lá ia eu, com todo cuidado tirar desde as muito
pequenas até as maiores, levar para a cozinha, lavar e deixar secando SOZINHAS –
num balcão forrado. Naquela época eu já tinha ouvido alguns gritos de que não
era para passar o pano porque os fiapos ficariam no cristal. E era feio.
Na
atualidade percebi que toquei o foda-se. Eu uso as taças. Todas. E enxugo com o
pano.
Bem, menos essa
noite. Deixei as taças secando lá. Até amanhã.
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