No domingo de manhã o gás tinha acabado. Como estamos com
pouquíssima internet (só em dois lugares específicos no vilarejo) e usar o telefone nem
pensar porque é muito caro, achamos melhor resolvermos sozinhos. Vimos que
tinha um botijão cheio ali fora mesmo e Greg foi lá e trocou. Depois avisaríamos
o nosso chefe-anfitrião.
Na segunda, não foi preciso avisar. Era 7 horas da manhã e
eu ouvi a voz dele longe, chegando perto e chacoalhando os botijões de gás. Já
notou que trocamos. Eu que já estava meio pronta, saí para tentar falar com ele
e o vi com mais quatro homens dando instruções sobre o edifício. Achei melhor
não interromper. Hoje eu queria falar sobre a nossa missão. Eu sabia que o que
tínhamos que fazer era continuar a cortar os galhos das vinhas e amarrá-los
direito e colocar o adubo de compostagem nas vinhas. Mas tínhamos ainda lenha
que ficou por cortar em pedaços pequenos no sábado. E aquilo me incomodava.
Todo dia uma foto diferente da saída de casa. Pra acompanhar a mudança das montanhas. |
Brincando com o sépia no prédio vizinho |
Quando nosso anfitrião finalmente veio falar com a gente
contei nosso plano. Iríamos terminar a vinha em guio, almoçaríamos eu, Greg e
Marco em nosso apartamentinho – porque Paolo iria para um curso – e depois
iríamos para a casa dele para ir terminando a lenha até umas 4 da tarde, quando
caminharíamos de Pranzo para Tenno a fim de descobrir outro caminho e esperar o
amigo alemão que estava por chegar. Sim, porque Chris mais uma vez viria nos
visitar.
(Parênteses sobre o Chris: Chris é amigo do Greg já mais de
10 anos. Eles moravam em Boston quando os dois começaram a escalar no mesmo
ginásio de escalada. Depois Chris voltou
para a Alemanha, Greg foi pro Chile, nos conhecemos e quando eu estava fazendo
o doutorado-sanduíche em Sevilla ele convidou o amigo alemão para dar um pulo
lá na mesma época que ele fosse me visitar. Era ano novo - 2013. E quando falo
dar “dar um pulo”é isso mesmo porque na Europa é tudo assim, pertinho, se
compararmos com Brasil. Pois bem, Chris é o alemão mais fofo que já conheci.
Suuuper calmo, companheiro, virou amigo coletivo automaticamente. Depois ele
foi nos visitar na Páscoa de 2013, levamos ele para Florianópolis e arredores. Em
2014 nos encontramos nos Estados Unidos, quando fomos fazer nossa cerimônia de
casamento – ele não participou porque as agendas não combinaram, mesmo assim
passamos dois dias juntos. A última vez foi o Natal e Ano Novo de 2015 em que
ele foi nos visitar em Floripa/Curitiba. E ele vem para a Itália dessa vez, nos
encontrar aqui. Podemos dizer que o Chris é o amigo mais encontrável em
qualquer parte do mundo.
Pois bem, como o gringo não dá ponto sem nó, é claro que
ele ajeitou as coisas para escalar algumas dessas montanhas
aqui perto com o parceiro-cidadão-do-mundo. Parecem crianças quando vão
brincar. Ficaram se falando um monte de dias, compraram o guia de escalada da localidade,
pesquisaram na internet e descobriram quatro mil rotas de escaladas nessa região
que estamos, especialmente em Arco. Enfim, nossas tardes serão preenchidas
daqui para frente com escaladas ou programas similares.)
Pois bem, terminei os engalhamentos das vinhas (eu consegui
me cortar algumas vezes) e Greg espalhou a compostagem em cada vinha guio. O
sentimento de satisfação foi ótimo e compensou um pouco o cansaço e a dor nas
costas.
O galho mais forte fica preso para que os brotos cresçam para cima. |
De volta ao apartamento, Marco tomou a frente. Queria
cozinhar e como tínhamos poucas opções – eu tinha feito um minestrone no dia
anterior mas ele queria cozinhar pasta com funghi – e o mercado estava fechado
(loucura isso! Na segunda-feira, o único mercado não abre e o hotel/restaurante também não).
Ele acabou fazendo bruschetas. Ficaram absolutamente divinas.
Dá pra ver que gente louca, atrai gente louca. Ainda bem que todo mundo cozinha bem. |
Bruschetas com o que tínhamos |
Marco nos levou a Pranzo, pulamos o muro da casa de Paolo –
porque o portão estava chaveado – e começamos a trabalhar cortando as lenhas.
Era umas 14h e finalmente consegui acessar a internet do município no lugar
mais improvável – na frente da casa do anfitrião. Recebi a mensagem do whatsapp
que Chris já estava em Arco, depois de 9h30 dirigindo da cidadezinha dele perto de
Dusseldorf, na Alemanha, para cá. Avisamos onde estávamos e ele chegou em 40
minutos. Nada como os GPS de hoje em dia que possuem até os vilarejos medievais
no arquivo...
Chris se encasacando com a blusa comprada em nosso primeiro encontro, em Sevilla. |
Chris aqui, abraços e e notícias rápidas, levamos ele para
dar uma olhada em Tenno, na igreja de Santa Maria que finalmente estava aberta
e na ponta do burgo de Frapporta, onde está a igreja de San Lorenzo, de onde dá
para ver todos os outros vilarejos embaixo. Voltamos ao nosso prédio e os
contratados do anfitrião colocavam as toras de madeiras que tínhamos ido buscar
em Ledro com ele para fazer a estrutura do teto. Impressionante como eles
conseguem enfiar caminhão, grua e tudo o mais nessas ruelinhas...
Pegamos o carro e aproveitamos para dar um pulo lá no vale, ao
redor de Arco, e fomos ao mercado. Todo mundo meio cansado e muito esfomeado.
Aproveitamos e entregamos para o Chris o líquido que ele tanto gosta do Brasil e trouxemos para ele:
cachaça. J
Outra coisa que percebi: é engraçado como com esse ritmo,
sem TV, sem internet, a gente vai para cama mais cedo e levanta mais cedo
também. O ritmo tem sido 22h (às vezes antes) às 6h, naturalmente. Em casa, se
eu for para cama antes das 22h pode contar que estou doente.
Bem, Chris foi para o hotel e nós para a cama. Amanhã é dia
de terminar a lenha e de tarde explorar perto do Lago Riva Di Garda.
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