O tempo está esquentando aos poucos. Hoje a temperatura
estava bem agradável a ponto de conseguir usar camiseta de manga curta, mesmo com
o vento frio que batia. O trabalho também não foi leve. Várias pequenas
missões: organizar os canos de irrigação para tirá-los do caminho entre as
oliveiras, tirar com a enxada todos os matos que estavam ao redor de cada
oliveira porque elas precisam “respirar”, depois tivemos que espalhar a
compostagem tanto no campo onde arrancamos os repolhos quanto no meio das
oliveiras. Literalmente joguei “merda” para todo o lado, fazendo a compostagem
voar da pá. Aquilo foi libertador.
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Apontando para onde a "merda"precisava voar... |
Paolo disse que ia cortar os matos da região
onde os repolhos estavam – vou chamar de área de horta porque logo vamos
plantar batatas – mas no final das contas o cortador não funcionou bem porque
estava perto da cerca demais. Aí ouvi o grito:
- Niva!!!!! (é assim que ele me chama) o cortador não vai
até a cerca, isso vai ter que ser com a mão.
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A vista do escritório. Difícil... |
Bem, eu já percebi que tenho um certo prazer de arrancar
coisas que não deveriam estar naquele lugar. Mas ali tive que lidar
com um sentimento de raiva que veio sei lá de onde, sem motivo algum. Bem que
minha acupunturista e mestra chinesa me disse que preciso lidar com a terra...
Vista linda no “escritório” e eu lidando com alguma coisa desconhecida de
dentro de mim que não era muito prazerosa. Enfim, fui arrancando com a mão, com
luvas, todos os matos grandes que estavam perto da cerca. Vários cortes depois
em mãos e braços, irritação porque os pico-picos eram pequenos e entravam no
tecido da calça e da camiseta e muito mais na luva que não eram de borracha, eu
terminei o lado da cerca que precisava ser retirado. Greg continuava nas olivas
com a enxada, assegurando que elas poderiam respirar. Ambos terminamos o que
fazíamos e fomos jogar a compostagem por tudo. E dá-lhe pá voadora por tudo. Fizemos o
ex-campo de repolhos e futuro campo de batatas, e dois corredores entre as
olivas.
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Ainda do escritório... |
Almoçamos a pasta deliciosa de sempre e fomos para casa encontrar com
o amigo alemão, que já estava acomodado em Tenno. Isso significaria beber vinho
à noite com ele, porque ele é meu companheiro de vinho... Daí ele não
precisaria dirigir.
Bem, fomos dessa vez para Mori. Mori foi sempre a razão de
eu ter escolhido essa fazenda, mas agora que estava perto, eu fiquei meio sem
ação. Esse é o problema de criar expectativa. Foi de lá que meus bisavôs e
tataravós saíram, mas eu também sabia que a cidade tinha sido destruída algumas
vezes. Inclusive destruindo a documentação do meu bisavô...
Pois bem, todo mundo no carro, fomos em direção a Mori – 30 km de Tenno
– e chegamos lá com os sinos da igreja tocando fortemente. Mori não tem as paredes
enormes de montanhas que vemos em Tenno. Depois de passar uma delas, tudo fica
um pouco mais baixo. Bem, digo isso comparado com o que vemos todos os dias
aqui... É praticamente o cenário de Santa Catarina, e talvez, por isso eu veja
tanto sentido deles terem ido todos para as montanhas de Rio dos Cedros,
Indaial, Benedito Novo...
Chegamos em Mori, sino tocando, e o vilarejo era maior do
que pensávamos e também bem mais novo do que pensávamos. O sentimento que
pairava era de querer se ver livre de algum passado. Pudera, muita carnificina
aconteceu ali. E fico me perguntando como foi que esse pessoal bélico se
embrenhou em montanhas tão distantes para disputar o território. Mori é um
vilarejo quieto, que tem velhos para todos os lados, mas casas coloridas, uma
praça moderna, com um chafariz arredondado no meio. Ironicamente muitas casas
carregam a data de... 2011, em sua frente. É como aquele primo seu que é brega
mas que faz um esforço gigante para ser “in”...
A cidade fica tentando dizer o tempo todo que é moderna, que tudo o que ali aconteceu é
passado. Enfim sentimentos contraditórios em mim, fui ao cemitério. Lá achei
alguns Bonas, alguns Canalis, para a minha surpresa, mas o que me impressionou
foi a Teresa Bona. Nascida em 11/1912 e morta em 06/1913. Um bebezinho. Ela
deveria ser alguma sobrinha ou priminha de meu bisavô, que chegou ao Brasil em
1876 com 16 anos.
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Chiesa S. Stefano em Mori. A torre foi recuperada. O restante da igreja foi reconstruído |
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Cemitério de Mori |
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A Teresa não chegou a ter um aninho... Uma tristeza ver lápides assim. |
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O "trinco" da igreja de S. Stefano |
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S. Stefano por dentro. E a vigília de Páscoa acontecendo. |
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Mori, colorida, e nova. |
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O aviso conta um pouco da história da cidadezinha... |
Depois de dar uma volta esquisita em Mori fomos para Arco.
Outra atmosfera. Me lembrou muito San Pedro de Atacama. O vilarejo é antigo,
medieval, mas tem um clima de juventude que paira por tudo. Várias lojas, todas
focadas em escalada, biking, treking. Gente cool por todo o lado. Cafés,
restaurantes, lojas de temperos, vinhos... Tudo abençoado por um castelo láaaaa
em cima de um paredão de pedra enoooorme que gruda no vilarejo. Não é à toa que
Arco é o point de qualquer um que seja louco por escalada. É como se Chris e
Greg fossem crianças e estivessem em uma loja de doces. En-lou-que-ci-dos, sem
ter certeza para que lado olhar.
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Igreja evangélica em Arco. Muito linda. |
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Um dos parques principais de Arco. |
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Igreja de Arco. Nota pro anjinho pendurado lá em cima. |
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A fonte da praça principal. |
Enfim, Arco é legal. Mori tenta ser, mas precisa de um core
business para tal. Mesmo que seja a história sangrenta que a rodeia.
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E que o anjinho proteja todas as almas que vivem na guerra... |
A reflexão de hoje? O quanto estiveram desesperados meus
tataravós para saírem correndo de uma localidade que tinha tudo para ser
bucólica, embarcar em um navio, sem garantia de chegada e, se chegasse, em um
país super estranho, sem garantia de volta ou de rever amigos e familiares.
Bem, a conclusão? A guerra faz isso. A guerra consegue ser algo tão estúpido
que mesmo sem matar efetivamente, consegue acabar com a vida de gerações
inteiras.
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