Woofer – Itália – quarto dia de trabalho

No passeio noturno do dia anterior encontramos várias velas e cruzes no caminho medieval que fazemos. A via crucis estava sendo cumprida pelos fiéis que saíam da igreja.  Daí lembrei que nesse domingo era domingo de Ramos. Não tem como esquecer em vilarejos que transpiram o catolicismo.
Uma das paradas da via crucis.

Já descobrimos que Paolo é ligado nos 220 quando às 7 da manhã começamos a ouvir barulhos no edifício em que estávamos. Ele disse que era para ficarmos prontos às 8h30, mas já nos arrumamos, tomamos café e fomos saindo. A missão hoje seria cortar os gravetos em tamanhos pequenos para colocar para fazer fogo depois. Ficamos na casa em Pranzo, a mesma em que sempre almoçamos. Nas conversas que conseguimos ter, entendi que na verdade todo mundo mora em Trento. A esposa, Giuliana, é professora do ensino médio e na quarta-feira eles vem todos, inclusive a mãe de Paolo para passar a Páscoa aqui. Finalmente vou conhecer todo mundo.


Ele trouxe os cortadores e mostrou o que queria que fizéssemos. Cortar todos os galhos que recolhemos no campo – ele tinha trazido em um trator para a frente de casa – em pedaços de 30 cm para colocar para iniciar o fogo. Eu me senti meio besta fazendo aquilo, primeiro porque era um troço que qualquer criança faria depois porque ele disse, numa das idas e vindas para checar o que estávamos fazendo, que normalmente ele levava para uma máquina fazer aquilo. Eu não via muito sentido em cortar os galhos em tamanho pequeno quando poderíamos estar fazendo outra coisa que máquina não faz, mas aceitei (porque dói menos, né, Ana Heck!) e porque encarei como uma terapia. Um tempo depois eu já estava cortando tudo que via pela frente. Escolhia os galhos para deixar esteticamente mais parecidos com cada um...
A pilha de galhos que precisava ser cortada.

A vista parece daqueles jogos de palitinhos que jogávamos... Mas em outro nível... ;)


O almoço foi um prato tipicamente trentino: canederli. Um tipo de um gnochi grande feito de uma massa com pão velho, alho, pedacinhos de salame e cebolinha (na receita do Paolo. mas aqui você tem instruções claras em italiano ou a receita em português aqui. Daí você cozinha como gnochi, mas é maior, e serve ou com molho de tomate ou com caldo de minestra.  Enfim, descobri que Paolo cozinha muito bem.
O Canederli


À tarde ele disse que, se quiséssemos, nos deixaria no Lago Tenno porque iria plantar alguma árvore não sei onde. Esse nosso anfitrião tem alguns terrenos que ele mostrou espalhados por aqui, quer construir as residências no prédio em que estamos, produz vinho e óleo de oliva e é arquiteto. Enfim, é do tipo que dá um cansaço só de olhar o que ele faz. Ele nos deixou no Lago Tenno e ensinou como faríamos para voltar para Tenno, passando por Canale.

 - Vá pela igreja (chiesa). Tá vendo a igreja? Então você rodeia o cemitério e segue o caminho.

O lago de Tenno é o que tem a água mais pura e cristalina de toda Itália. Fechado também por montanhas, ele tem um azul turquesa-esverdeado fantástico de lindo. Em um dia ensolarado foi especialmente prazeroso visitá-lo. Pelos avisos dos sinais, parece que é bem movimentado no verão – que aqui faz 35 graus! -, mas é muito regulado também. Nada de dar banho no cachorro ou lavar pratos no lago. Nada de detergente. Os cartazes não cansam de repetir. Pode-se mergulhar e pescar, pelo menos.

Lago di Tenno em toda a sua limpeza.

Água gelada. Mas uma delícia sentir-se parte disso tudo...

Preste atenção às florzinhas no meio das folhas secas... 

As amarelinhas nascem em buquês.

O caminho ao redor do lado parecia com os descritos nas histórias dos contos de fábulas. Florzinhas amarelas e algumas raras roxas enfeitavam ainda mais a paisagem que já era de tirar o fôlego. Pedras brancas apareciam no fundo da água límpida do lago.

Depois de rodear o lago seguimos o caminho para a Vila Canale. Segundo um dos sinais, o nome vem do latim Canalis, que significa vilarejo perto da água. Uma fofa vila medieval e preparada para o turismo, pelo que vi se mostrou à nossa frente. Antes dela, o canal de água que deve dar-lhe o nome. Por aí comecei a refletir que talvez o nome Canalli, que sei que vem de Canale, tenha sido dado para alguém nos tempos idos em que se dizia que fulano é fulano de tal lugar. Penso que meus ascendentes eram Fulano e Fulana de Canale. Senti aquele calorzinho gostoso de pertença a algo muito maior depois dessa conclusão...

Canale por dentro.

Atenção às pinturas de trocentos anos das paredes.

Afrescos da virgem por tudo

Uma das "praças" do vilarejo


A explicação

Finalmente sem jaqueta!

O canal que deve dar nome ao vilarejo


Continuamos o caminho e achamos a igreja já em outro povoado. Repleta de ramos de oliveiras, a data do domingo próximo não podia ser negada. Era já a quarta igreja visitada. Alguém me disse que toda vez que pisamos em uma igreja temos direito a fazer um pedido. O meu sempre tem sido um mesmo, que tenho certeza que vou conseguir quando voltar ao Brasil. Aliás, ele envolve Santo Antonio e São Francisco e por coincidência, quando saímos da Chiesa di Calvola – San Giovanni Batista - vimos a placa: Villa Sant’Antonio. Sinal dos céus.
Detalhe da porta principal.

A chiesa, vista de baixo.


Quando voltamos para casa no final da tarde, as caras estavam queimadas do sol e tínhamos três italianos discutindo muito alto dentro do apartamento, tentando instalar uma geladeira nova. Decidimos ir passar um tempo na praça para não atrapalhar a assembleia. Ali Greg começou a desenhar e os meninos que estavam jogando bola se interessaram. Vieram dar uma olhada:
- Que belo!

A noite acabou com uma ida ao mercado e com janta que nós cozinhamos já que tínhamos geladeira que funcionava. Eeeeeeeeeee!!

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