Um golpe na boca do estômago


Eu preciso vomitar isso que está dentro da cabeça, borbulhando. Não sei qual foi essa reação esquisita, mas o debate de hoje que fizemos na faculdade mexeu muito comigo. Uma reação meio retardada, mas enfim, bateu agora.
O Debate de hoje fez eu reviver meus 13 anos. Eu não tinha muito ideia do que era ditadura, muito menos o que ela fazia com as pessoas. Aos 13 eu entrei para o grupo de jovens da igreja que muito diferente de outros era altamente politizado. Aprendi sobre a Teologia da Libertação e congreguei com aquele Deus que era coerente, que estava fora dos templos, nas CEBs. Aquele Deus que lembrava as pessoas quais eram os direitos delas na terra e que todas, sem distinção eram filhas dele mesmo.

Fizemos um teatro, o Ki-esperança. Duas horas de peça que tratavam de temas altamente atuais hoje (faz bem mais de 20 anos...)! ali, eu lembro bem e hoje essa imagem explodiu na minha cabeça: citávamos os nomes dos mártires tanto da ditadura quanto das comunidades mais pobres, como Chico Mendes. Tem gente que não sabe, mas teve uma galera da igreja morta por defender os direitos dos menos validos. Não era filantropia. Era empoderamento.

Enfim, essa história marcou algo que na minha personalidade, acho, já estava mais ou menos definido: a proposta combativa, o estar pronto para brigar. Com o tempo aprendi a escolher minhas batalhas e ser mais estratégica mas continuo brigando, e muito. Acredito que só assim minha vida nesse mundo tem sentido. Quando somos instrumento de mudança. Sim, estou falando bonito mas estou cheia de defeitos também.

A questão que mais me assombrou é que tem gente achando “bonito” pensar em uma volta à ditadura. Quase brinquei de Jesus e disse: senhor, eles não sabem o que dizem!

Mas com o debate de hoje uma bigorna gigante caiu na minha cabeça: obrigado a todos os professores da mesa! Vocês foram os responsáveis por isso.

A sacada é a seguinte: além de ainda arrastarmos muito do que era o regime militar e a ditadura até os dias de hoje nas nossas práticas (Voz do Brasil, polícia que mata) há uma parcela de nós - muitos que não têm ideia do quanto de sofrimento é não poder enterrar um filho, um pai um irmão - que é altamente comodista. E essa parcela é grande. Ela não quer participar. Cansa participar, negociar. Então os outros que decidam.

Para um líder, a coisa é muito mais trabalhosa. Ou o pessoal acha que é legal ficar perguntando tudo para todo mundo? Muito mais fácil decidir sozinho. E, senão se consegue agradar a todos então mandar calar a boca. É mais fácil, muito mais. A democracia é trabalhosa, é bagunçada. Não tem ordem, tem diversidade. Tem respeito a uma opinião que talvez não seja a minha mas como é do meu colega, eu devo respeitar.

Enfim, nesse processo democracia estamos gatinhando ali na faculdade. Mas fazemos nosso exercício diário de participar, de dar a opinião, de fazer a coisa ser coletiva. Hoje foi outro desses dias. Mas as memórias e o choque do passado e do presente doem. Ainda e já. Há muito ainda por caminhar.

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