O que realmente importa

Hoje, quase três meses depois da minha volta do sanduíche na Espanha consigo ter tempo para sentir uma certa nostalgia, e principalmente para poder escrever.

Uma descoberta-parênteses: preciso de minutos de ócio para poder escrever. Isso significa que para implantar meu sonho de aposentadoria que é ser escritora de romances, eu vou precisar de muuuuuiiiito tempo livre. Senão não dá. Fecha parênteses.

Bem, terceiro dia de Brasil eu já estava apagando incêndios na faculdade em um novo cargo que me confiaram. Eram reclamações de alunos quanto à sala, eram professores que queriam fazer isso ou aquilo, eram pais (sim!!!!!!) reclamando que o filho não foi tratado do jeito que deveria, eram papéis, papéis, e reuniões infindáveis. Milhares de reuniões, todas longas que poderiam se resumir a meia hora de troca de informações.

E a tese sentou e esperou.

Março desapareceu da minha vista como aqueles ninjas que jogam o pufffffff de fumaça. E fiquei me prometendo que faria algo para juntar os amigos, como um bota-dentro, no meu aniversário. Não consegui. O que consegui foi dar atenção a um amigo alemão querido que conheci na Europa, dividido com o consorte, que teve a coragem de vir nos visitar (vocês não têm idéia do quanto selvagem a América do Sul ainda aparece para os do hemisfério norte).

Aí o aniversário chegou e um fiapo de mim sussurrou: não vai rolar juntar todo mundo, não há energia... Mas fiz questão de responder um a um os parabéns do facebook. Aliás, de novo, venho defendê-lo como a minha saída/solução para poder dizer o quanto certas pessoas são importantes para mim. Gosto dessa rede social porque me permite fazer isso e dividir coisas que gosto.

Passado o primeiro mês, ajeitei meus horários na faculdade e resolvi que salvaria um dia inteiro para a tese na semana. Compensaria esse tempo nos outros dias de trabalho. E esse dia da tese virou o dia de todo o resto também, inclusive do tesouro mais precioso que tenho: meus amigos.

E assim, duas velhas amigas vieram em casa me visitar. E a tese esperou.

E depois eu fui resolver minha vida de exercícios – porque tinha certeza que adoeceria se não começasse a fazer algo. E a tese esperou.

Apaguei mais incêndios, preenchi mais relatórios, e descobri que parceria de verdade no trabalho é como dança, quando há sinergia a coisa fica linda!

Um dia sentei na frente do meu super parceiro de trabalho e assumi um erro grotesco: “escapou. Errei. Esqueci. Não deu”. Eu estava me sentindo um lixo.
E ele respondeu com a experiência de quem tem uma boa caminhada na minha frente:
- normal. Isso vai acontecer mais um monte de vezes.

Fiquei atônita olhando para ele e pensei: é agora que eu resolvo essa minha relação com a perfeição... Aprendi ali, que preciso e devo delegar. Sempre. E que esperar perfeição dos outros é cruel. Mais cruel ainda é esperar de mim.

E a tese continuou esperando. Ela ainda estava com a memória da nossa intensa relação na Espanha e se conformou.

E a roda-viva continuou. Cheguei a sair da faculdade uma noite, tão cansada, tão cansada, que cogitei dormir na praça mesmo, porque não conseguiria caminhar até subir as escadas da minha casa.

Mas aprendi muito nesses dois meses e meio.

Aprendi que posso dar uma corridinha para a casa da minha irmã – onde tem mar - para recarregar as baterias na areia e na água salgada.

Aprendi, nesse tempo, que, em determinados cargos não se abrem emails do trabalho em casa. Em hipótese alguma, sob risco de você não dormir e jogar no lixo dias realmente relaxantes.

Aprendi que não se leva para casa o problema que é dos outros.

Aprendi que certas palavras simples e doces podem salvar uma pessoa. De verdade.

Mas, hoje, vendo a minha agenda e “encaixando” meus amigos em horários de almoço, café e janta nesta e na próxima semana vejo que esses dois meses e meio me confirmaram algo que é de suma importância e finalmente coloco em prática na minha vida: meus amigos e minha família.
Sim, dona tese, desculpa, mas eles vem antes. E, veja, aos poucos volto para você. Sem me descabelar ou me isolar. Não é lindo isso?

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