Começa a contagem regressiva para voltar a minha casa no Brasil – escrevo assim porque agora eu tenho duas casas – e as coisas das quais sentirei falta daqui me saltam aos olhos. Todo mundo diz que a gente tem que viver o presente e tals, mas EU NÃO CONSIGO! Juro que tento, mas sou daquelas que sofre por antecipação. Então, todos os dias tenho digerido aqui uma falta, algo de que sentirei falta. Talvez sentindo agora eu fique menos saudosa depois. Sei lá, é um jeito de lidar.
Uma dessas coisas que saboreio aqui é ir caminhando para a minha aula de flamenco. Aqui pode-se caminhar tranquilo pela noite. Qualquer pessoa. Qualquer hora da noite. Em ruelas praticamente medievais. Não há violência, então a caminhada pode ser de prestar atenção ao seu redor.
E “me gusta mucho” fazer, principalmente, esse caminho para o paiol onde estão as salas de flamenco. Sevilla tem construções beeemm antigas que são partilhadas por artistas ou ainda antigos galpões usados para cavalos que viraram estúdios. Eu tenho aula em um lugar assim, que foi transformado em estúdio de música e salas de dança. As pessoas que dão aula lá alugam o lugar e fazem a sua arte.
Enfim, hoje, mais uma vez fiz essa caminhada. Beeeem devagar. E nas duas primeiras quadras eu me deparo (em meio a muita gente indo e vindo) com duas mães com suas crias de 4, 5 ou 8 anos conversando no meio da rua. Normal, a conversa. Um pecado foi o que ouvi os pequenos cantando:
- Delícia, delícia, assim você me mata...
Conseguiu imaginar a minha cara? Pois é.
Como se não bastasse o esforço homérico que estou fazendo para lembrar das coisas boas da minha casa original a fim de sentir menos falta daqui, a coisa ficou pior.
Caminhei um pouco mais e ouvi um som de trombone. Alguém ensaiava em uma casa, dessas que estão na beira da rua. Tentei me lembrar se alguma vez eu ouvi na redondeza do meu bairro em Curitiba alguém ensaiando algum instrumento... Mas ok, enfim.
Caminho um pouco mais e duas meninas caminham na direção oposta, cantando. E era uma música da Semana Santa – estão acontecendo ensaios por todos os lugares agora. As meninas caminhavam e cantavam e seguiam a canção... Fazendo duas vozes! Acho que deveriam ter em torno de 23 anos. Belíssima música, e a duas vozes? Não, não, fora de conservatórios de música, nunca ouvi no meu país.
Um pouco mais adiante escuto algo mais comum: sapateado do flamenco. Sevilla ressoa a palmas e sapateado. É até normal, e não dá para comparar. Até porque Curitiba tem realmente a sua música principal, que todo mundo aprende inclusive na escola que é... que é mesmo... Hum, não tem.
Para fechar minha caminhada, perto de um desses prédios compartilhados por mil artistas, escutei uma flauta.
Depois disso passei no estúdio do escultor, depois do pintor de quadros até chegar ao estúdio de música em que tenho aula. Aí foi normal, isso é cotidiano.
Pensei que por um bom tempo não terei mais isso tudo. Sevilla, hoje, foi cruel comigo.
Uma dessas coisas que saboreio aqui é ir caminhando para a minha aula de flamenco. Aqui pode-se caminhar tranquilo pela noite. Qualquer pessoa. Qualquer hora da noite. Em ruelas praticamente medievais. Não há violência, então a caminhada pode ser de prestar atenção ao seu redor.
E “me gusta mucho” fazer, principalmente, esse caminho para o paiol onde estão as salas de flamenco. Sevilla tem construções beeemm antigas que são partilhadas por artistas ou ainda antigos galpões usados para cavalos que viraram estúdios. Eu tenho aula em um lugar assim, que foi transformado em estúdio de música e salas de dança. As pessoas que dão aula lá alugam o lugar e fazem a sua arte.
Enfim, hoje, mais uma vez fiz essa caminhada. Beeeem devagar. E nas duas primeiras quadras eu me deparo (em meio a muita gente indo e vindo) com duas mães com suas crias de 4, 5 ou 8 anos conversando no meio da rua. Normal, a conversa. Um pecado foi o que ouvi os pequenos cantando:
- Delícia, delícia, assim você me mata...
Conseguiu imaginar a minha cara? Pois é.
Como se não bastasse o esforço homérico que estou fazendo para lembrar das coisas boas da minha casa original a fim de sentir menos falta daqui, a coisa ficou pior.
Caminhei um pouco mais e ouvi um som de trombone. Alguém ensaiava em uma casa, dessas que estão na beira da rua. Tentei me lembrar se alguma vez eu ouvi na redondeza do meu bairro em Curitiba alguém ensaiando algum instrumento... Mas ok, enfim.
Caminho um pouco mais e duas meninas caminham na direção oposta, cantando. E era uma música da Semana Santa – estão acontecendo ensaios por todos os lugares agora. As meninas caminhavam e cantavam e seguiam a canção... Fazendo duas vozes! Acho que deveriam ter em torno de 23 anos. Belíssima música, e a duas vozes? Não, não, fora de conservatórios de música, nunca ouvi no meu país.
Um pouco mais adiante escuto algo mais comum: sapateado do flamenco. Sevilla ressoa a palmas e sapateado. É até normal, e não dá para comparar. Até porque Curitiba tem realmente a sua música principal, que todo mundo aprende inclusive na escola que é... que é mesmo... Hum, não tem.
Para fechar minha caminhada, perto de um desses prédios compartilhados por mil artistas, escutei uma flauta.
Depois disso passei no estúdio do escultor, depois do pintor de quadros até chegar ao estúdio de música em que tenho aula. Aí foi normal, isso é cotidiano.
Pensei que por um bom tempo não terei mais isso tudo. Sevilla, hoje, foi cruel comigo.
Isso me fez lembrar de você, pouco tempo atrás, me falando sobre como nós somos privilegiadas por viver experiências como essa, andando pelo mundo. E me fez pensar também: será que os lugares onde a gente vive todos os dias não têm também uma música, uma arte brotando pelas paredes? Ou será que é a gente que anda apressada e distraída demais, sem prestar a devida atenção ao que mais importa?
ResponderExcluirÉ prima, uma diferença cultural gigantesca. Entendo porque você sentirá falta. Espero que um dia nosso país chegue a esse nível, embora acho que vá demorar muito.
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