Publicidade, sim, porque é comunicação


Aqui estou em um dia absolutamente chuvoso em Sevilla. Ótimo para estudar, mas tem uma hora que cansa. E cansando, lembrei de uma coisa diversa – aliás, bem diversa – do foco da minha investigação aqui: publicidade.

Sim, tem gente que acha que jornalista odeia publicitário e vice-versa. Acho isso uma besteira sem tamanho. O comunicador é um só e enquanto um vende ideias o outro vende... ideias de comprar coisas, serviços e comportamentos. Mas enfim, o foco da discussão não é esse aqui. Sou jornalista, mas adoro falar de publicidade também e do poder de convencimento de determinadas mensagens.

Por essa razão, e por adorar admirar a criatividade humana, também fico absolutamente atenta às propagandas ao meu redor. E no afã de engolir de uma vez esse espanhol andaluz tenho visto muita TV. Por essa razão, preciso destacar determinadas criações que realmente me impactaram.

A primeira foi o filme sobre segurança no avião da TAP. Ah, você vai dizer, isso não é propaganda. É, porque pretende-se convencer você a prestar atenção à mensagem, vender a ideia de que aquilo é importante. E, bem, quem está careca de viajar de avião sabe que as instruções de segurança sempre são uma lenga-lenga super repetitiva dos mesmos procedimentos (um a parte: isso me fez parar de sonhar em ser aeromoça, a vida delas é uma eterna repetição, coitadas!). Enfim, a TAP, companhia portuguesa, tem um texto absolutamente delicioso no filminho das instruções. Ainda bem que consegui encontrar no youtube. O filme é feito por bonecos ventríloquos. E certas expressões são muito interessantes: “mesmo que você esteja em meio a um papo animado, preste atenção às nossas instruções” ou “para 99,9999% dos passageiros que não são feitos de madeira, o colete de salvação está localizado embaixo da cadeira” ou ainda “se ainda não reparou, há um folheto...”. São pequenos detalhes que fazem você prestar atenção pela 945748574 vez às orientações de segurança.

Se tiver tempo, veja:



Outra propaganda que achei bem construída é a da loteria Euromilliones. O que me apontou as diferenças entre minha casa e aqui: as loterias são amplamente divulgadas e publicizadas. Não fui a fundo para entender os motivos, mas há muito mais propaganda de loterias tanto nas ruas quanto na TV.
Esse spot em questão foca na liberdade que o dinheiro dá de se fazer outras escolhas, mas eu juro que cairia muito bem como uma propaganda de moto e toda a liberdade que se quer mostrar tendo uma. O foco é do “personagem”, como se o cliente estivesse no controle, escrevendo a sua própria história. O filme fala de liberdade, mas conseguiu fazer isso de maneira poética e bem atrativa, ao meu ver. Dê uma olhada:



A outra que destaco é a do automóvel Toyota, do aniversário de 75 anos da marca. A assinatura é fenomenal: testado no caminho mais difícil de todos: o de volta. Para quem vive viajando e se desfazendo dos seus, ter um carro bom para fazer essa viagem de “afastamento” dos entes queridos é um bom consolo. Gostei do foco do anúncio sair do quanto o design do carro é lindo ou isso ou aquilo e foi para a pessoa, para como ela se sente.
Cheque em:



Outro que trata de emoção – talvez isso reforce que os espanhóis sejam realmente emotivos – é uma série de spots de uma clínica dentária. Longe de mostrar equipamentos ou equipe sorridente, a série fala do relacionamento que você desenvolve com o dentista. Os diálogos parecem DRs de casais mesmo. Dê uma olhada:







Mas a vencedora final ao meu ver, e simplesmente porque escolheu uma música fascinante (feita especialmente para a marca) é a fábrica de meias Calzedonia. A gente acaba ficando com a música na cabeça, porque tem um fundo de esperança, de uma vida brilhante e fabulosa. As imagens, claro, que são preenchidas por mulheres em grande parte bonitas (padrão estético hegemônico), mas o foco está mais nas meias.




E buscando a música ou mesmo o filme que passa na tv, encontrei a produção completa (porque na TV eles editam para 30 e 15 segundos). Ali se foca em todo tipo de meia, tem uma imagem de uma jogadora de futebol que é interessantíssima. Imagina quando é que vamos conseguir isso no Brasil, hein? Uma fábrica de meia usando jogadoras de futebol para promovê-las... E adivinhem com quem começa o filme? As aeromoças. E mais, de lingerie bege. Achei fascinante a quebra de paradigma. A lingerie bege ficou absolutamente chique ali. Dá até vontade de pensar seriamente em ser aeromoça, de novo. Não?





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