Sim, tem gente que não acredita em milagres. Nem em Deus ou forças mágicas. Eu acredito que tudo isso existe. E que somos muito mais mágicos e poderosos do que pensamos. Ego? Pode ser. Enquanto isso não me faz pisar nos outros ficarei com o meu ego e com o sentimento de ser filha do mundo.
Quando fui ao Chile sozinha sem ter planejado ir sozinha (me separei 3 dias antes da viagem que era para ser de casal), eu fui agraciada com pequenos e pontuais anjos. A visitar um morro que era perigoso (e eu não sabia) o dono do hotel em que eu estava resolveu me acompanhar... No dia de Natal que tinha tudo para ser o mais solitário e choroso do mundo acabei tendo uma noite incrível com duas australianas. No ano novo, com uma puta dor de garganta, mal mesmo, resolvi descer do quarto para ver os fogos e encontro com dois motociclistas brasileiros que falaram que não iam me deixar sozinha naquela virada de ano.
Enfim, tem gente que chama isso de acaso. Eu chamo de milagres. Gosto de ter a certeza/fé que tem um cara/mulher fodão/dona me cuidando. Assim posso me aventurar mais por aí. Claro que faço uns acordos com ele/a e não fico me jogando de pontes por aí, mas sei que tenho back para algumas coisas.
Sábado entrei em uma loja aqui para perguntar sobre um preço. Eu passava sempre na frente e nunca tinha entrado. Caetano tocava na TV e foi automático eu perguntar pra moça se ela gostava de música brasileira. Ela respondeu que era brasileira. Bem, já se imagina o que veio depois, né? 1h30 de conversa solta. Faz 8 anos que ela vive aqui, me contou todas as desventuras, a opinião dela sobre tudo etc. E me apontou onde morava, etc. Perto da minha casa. Trocamos telefones e saí dali com a preocupação de convidá-la para passar o Natal comigo, porque ela estava muito triste de saber que talvez teria que passar sozinha. Eu não tinha planejado nada, nem se ia passar com alguém, e por isso pensei que ia ser legal a gente juntar as nossas duas solidões (se é que pode existir plural disso...)
Na volta da aula de flamenco passei pela rua da “chica brasileña” e comentei com a minha professora e com a minha amiga que tinha conhecido uma brasileira que morava ali. Continuamos a caminhar e a conversar sobre tudo. Num certo momento ouvi meu nome. Eu tinha passado pela “chica brasileña” e estava distraída falando e nem a vi. Ela ouviu meu espanhol macarrônico e lembrou de mim.
Apresentei tudo mundo, convidamos minha nova amiga para fazer flamenco com a gente, enfim, todo mundo se socializou. Agora eu pergunto: não é sinal? Claro que boa parte vai dizer: ah, é coincidência. Afinal eu estava passando na rua dela. Aí está a diferença. Para mim é um milagre/recadinho. Um recadinho amoroso dizendo: “filha minha, quero você confortada, segura e feliz. E quero que você deixe as pessoas que estão ao seu redor também, felizes e confortáveis.”
Gosto muito daquele ditado: coincidência é quando Deus quer manter-se no anonimato.
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