Tá, vai parecer coisa de criança ou de cachorro. Mas preciso de um certo tempo para me acostumar em lugares diferentes para dormir. Sei lá se é coisa de outra vida ou o que, mas sabe aquelas mil voltas que um cachorro dá antes de se ajeitar em um lugarzinho? Eu sou assim. E não só acordada, mas quando durmo levo um certo tempo para me sentir confortável e protegida em um lugar.
Assim, aqui na minha nova casinha estou sozinha. E a casa (casa nada, apErtamento/kitinete) é muito fofa. Para mim, está de bom tamanho, muito lindinha, pleno centro, mas silêncio sepulcral de noite (e na hora da siesta!!).
Uma coisa que percebi quando vou dormir é que preciso ter controle das saídas do lugar. Nunca de costas para a porta. E de preferência olhando a janela. Enfim, controlando as saídas ou o lugar por onde o inimigo possa entrar.(doido, eu sei)
Enfim, estalos, barulhos diferentes sempre me acordam. Meu cérebro precisa saber que isso é normal, que nada está pegando fogo que só é uma casa nova. Pronto é isso.
Acho que noite passada eu já me acostumei. Porque outra coisa começou a funcionar tão bem quanto funcionou esse ano inteiro na minha casinha de sempre: sonhei a noite inteira, com estórias muito elaboradas, tanto que acabei acordando pensando que estava em Curitiba. Precisei daqueles momentos de: onde estou? De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu?
E aí me lembrei que há tempos queria fazer um post sobre os meus milhares de sonhos absurdos que tive esse ano. Jung ia fazer a festa, afinal quem sonha com sapos gigantes fazendo sexo na cozinha ou com lagartos te perseguindo, ou pilotando uma moto e destruindo uma casa sem ter um arranhão ou ainda com um mundo de elfos morando no sotão da sua casa ou ainda com um castelo verde no Rio de Janeiro? Viu? Falei que era fora do comum. Sim, sim, eu sei que sonhos são fora do normal. É normal eles serem fora do normal. Mas enfim, esses estão muito fora do normal...
Bem, o post sobre sonhos demorou tanto que o universo - que sempre conspira – teve tempo para me fazer chegar esse texto e a imagem que ponho abaixo. Espero que me protejam enquanto durmo na minha nova casa...
"O Papel do Sonho na Vida
Por vezes, o homem é mais sincero e rico na desordem dos sonhos que na consciência unitária do raciocinador acordado, mas nós vivemos enquanto negamos o sonho e o tornamos inútil. O génio é a extradição do sonho, porque enriquece a consciência com as reservas e as pessoas do inconsciente. Expulsa o selvagem e o delinquente, destila a sagacidade do louco, adopta a criança e escuta o poeta. Não é autocrata surdo, como o homem vulgar, mas pai de iguais. A concórdia de se terem almas subterrâneas faz a grandeza do génio, e a sua obra é a sublimação do sonho, desenrolado na vida verdadeira, liberdade concedida aos pensamentos inocentes dos reclusos.
Escolher é próprio do homem, mas escolhe-se com a rejeição e mais com o acolhimento. Vencer não significa apenas destruir, mas incorporar. A razão será tanto mais razoável quanto maior a loucura que assumir em si; o herói será mais forte se transferir para si a energia do pecador, e a fantasia do poeta tornará mais profundos os cálculos do político.
Quando o chefe da alma é o poeta, verdadeiramente poeta, não encarcera a razão, mas condu-la consigo para cima, ao céu em que até o silogismo se torna fogo. Quando o vitorioso é o santo, até o ladrão, sob a forma de arrependimento, é elevado ao paraíso. E os espectos, tornados participantes da luz, não têm motivo para recorrer às fantasias nocturnas para se iludirem de que vivem. A vida não é sonho, mas a urdidura dos sonhos pode iluminar e embelezar a trama da vida. "
Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens "
via Carla Arduini Medeiros Serur.
"Proteja-me enquanto eu durmo ". Ilustração por Begemott
eu gosto muito dessa historia, e eu estou feliz que voce pode dormir agora. boa noite.
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