Dois dias de Sevilha

Impressionante como a gente coleta informações diferentes quando viaja.

Impressionante como a gente tem coisa para contar. Acho que muito mais do que o poeta disse (acho que foi o Mário Quintana): viajar não é só mudar a roupa da alma. É se reinventar. E como boa professora que um dia ensinou o pessoal de turismo (e óbvio que aprendi muito mais) sei que as pessoas transvestem as suas personalidades quando viajam. É por isso que alguns estudiosos investigam porque turistas em geral quebram seus códigos de civilidade quando estão em outros lugares. Eles acabam por não desenvolver o sentimento de pertença, logo não precisam seguir os padrões estabelecidos em sua sociedade, muito menos em outra.

Munida dessa informação, tendo-a de maneira bem consciente, tento descobrir quem vou ser em Sevilha. Com certeza uma Nivea diferente da que vive em Curitiba. Mas sei que vou construir essa nova roupa aos poucos, vendo o que cabe e o que não cabe nessa cidade fabulosa. Neste plano não está inclusa a barriga que trouxe de lá. Não mesmo.
Sim, Sevilha é fabulosa de linda. As duas últimas vezes que tive essa sensação (é um tipo de um embrulho no estômago de tão emocionado que a gente fica com algo lindo que vê) foi na Nova Zelândia quando passamos mais de 10 dias só vendo coisas maravilhosas, recantos de tirar qualquer tipo de exclamação da pessoa mais ranzinza do mundo. A segunda foi no deserto do Atacama, mas lá eu acho que era mais pela energia do lugar. Um troço inexplicável.

Enfim, depois de um ano que começou enlouquecedor eu estava dentro de um taxi indo do aeroporto de Sevilha para o hostel que reservei pelo Tripadvisor (não é merchan, é indicação mesmo). Quando o único mal-humorado sevilhano (o taxista) entrou no centro de Sevilha, eu quase tive um troço. É muito prédio lindo. Parece que eu estava sentindo todas as energias de centenas de anos de histórias, guerras, amores perdidos naquelas paredes. Sim, uma lagriminha caiu. Afinal, eu estava fazendo parte disso tudo. Minha história agora ia estar impregnada naquelas paredes também, como a das milhões de pessoas que vieram antes de mim.

O motorista me deixou na esquininha de uma micro rua e lá fui eu para o hostel empurrando duas malas e com outra nas minhas costas. O The Architect é um hostel novinho, super bem localizado - eu fico sabendo as horas, até porque ainda estou um pouco perdida - pelo sino da catedral (chiiiiiiiiiiiqueeeeeeeeee!!!!!!). O staff é para lá de amigável e tudo é bem planejado aqui. Nada de festas. Tem gente que gosta de ir para hostels para festar. Nada contra, mas não era o meu negócio e fiquei muito feliz de saber que tenho gente como eu aqui. Que quer conhecer a cidade, respeitar o espaço do outro e usar o hostel pra descansar. Ele ainda possui a maior qualidade de todas ever: é super limpinho. Enfim, estou me sentindo em casa aqui. Mapas, indicação de ônibus, etc, tudo também muito explicado.

Fiquei num quarto quádruplo (sim, é barato) com mais dois irmãos húngaros que devem ser mais novos que meu filho e falam espanhol melhor do eu (humpf!). Educadíssimos, ontem os coitados foram dormir de luz acesa porque eu estava fora (procurando apartamentos no computador) e eles não me queriam perdida dentro do quarto. Sim, é possível dividirmos espaços e sermos civilizados. É possível se preocupar com o outro,mesmo que seja um desconhecido. E mais, é possível não achar que pode pegar o que não é seu. Queria muito que o povo brasileiro entendesse isso e não ficasse com aquelas expressões na cara: “homem e mulher juntooooooosssss??? Afe!!!!!!!” ou então: ”Mas você não tem medo de roubarem suas coisas???” Bem, isso é papo para outro post – porque tenho um monte para falar – até porque agora quero falar de Sevilha e minhas primeiras impressões.


Eu ainda não saboreei Sevilha do jeito que ela deve ser saboreada. Estou indo com ganas (vontade) de achar meu lugarzinho para ficar aqui e dessa forma estou explorando todos os recantos possíveis para encontrar um “piso”. E falando meu parco espanhol com todo mundo que possa me ajudar. Dessa forma já tenho algumas ideias formadas – que tenho certeza que vão mudar com o tempo de acordo com a minha paixão pela cidade:
- sevilhanos são sempre muito gentis. Absolutamente gentis. Incrivelmente gentis. Menos o meu motorista de taxi.
- aqui respira-se a igreja católica. Cada quadra tem uma igreja, cada vielinha termina em algum sinal da igreja e você sente a opressão do passado em meio a toda a beleza sacra. Azulejos das casas sempre tem uma virgem santa amém.


- os ônibus são absolutamente lerdos. É um tipo de um lugar para os velhinhos se socializarem, pelo menos no horário que eu peguei. Altas conversas animadas.
- a tal da civilidade europeia está aqui também. Comprei um bilhete para entrar no tal do transvia (um trenzinho que anda pelo centro tipo um bonde fechado) e ninguém veio me perguntar ou checar se tinha comprado. E todo mundo entra e valida seu cartão sem ninguém ficar controlando.


-A praça que está perto do hostel que se chama Plaza Nueva (depois pesquiso mais sobre ela) tem espaço para greves e casamentos. Isso eu vi em dois dias. Sei lá o que pode acontecer nos outros dias...



- os apartamentos para alugar são amueblados quase sempre. Isto é: com móveis.
- Há pedintes nas ruas. Poucos. Mas eles são bem vestidos e têm vergonha de roubar. Tenho a impressão que são fruto da crise europeia. É triste ver o rosto vencido desse pessoal. Não há sinal de malandragem. Mas falo mais sobre isso no meu outro post.
- nenhum mapa impresso, nem mesmo o google maps dá conta de todas as ruazinhas de Sevilha. É impressionante como é fácil se perder entre os bequinhos e “pasages” como dizem aqui.


- O cara que vende melão em Triana consegue ser tão chato quanto o cara do sonho. Não, pensando bem, ele é mais.


- os bairros realmente são diferentes e as pessoas agem diferentemente de acordo donde são.
- os horários comerciais são diferentes. Almoça-se às 15h e se faz a siesta até às 17h – eu acho, porque não vi ninguém dormindo. Mas hoje às 14h eu apertei um interfone para saber mais sobre um cartaz de apartamento que estava para alugar e o moço que atendeu me mandou voltar às 17h30. Poxa, eu já estava lá!
- Há mais respeito ao pedestre. O taxista mal-humorado levou uma lavada de uma mãe que estava atravessando a rua e mesmo estando muito mal-humorado, ele baixou a cabeça e pediu desculpas.

Enfim, muitas novas impressões, milhares, que não cabem aqui. Mas queria dividir com quem queira notícias. Ah, antes de mais nada: são as minhas impressões. Podem ser todas falsas assim como os óculos que estou usando para ver tudo isso. Quem tiver dúvidas que fale com Bourdieu. :)


Comentários

  1. Eu quero visitar Seville, e eu quer ler mais de voce. Voce vai escriver mais? Eu espero que sim.

    Desculpe por minha Portugues.

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  2. Nivea, que lindo! Chorei aqui lendo esse post!
    Que sua temporada em Sevilha seja linda! E não deixe de escrever, assim me preparo com as tuas experiências! :)
    Un besito!

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  3. Oi Fran! Fique atenta aqui que vou desenrolando infos. Daqui a pouco vou escrever em espanhol, para treinar. Beijo

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