Cuidado com o que se pede...

Impressionante como a vida tem ouvidos atentos aos nossos anseios. Relendo meu último post depois de um longo inverno de ausência aqui, vejo que, enfim, solicitei o que passei nesses últimos dois meses. Pedi vivenciar os significados das coisas importantes já, como se estivesse à beira da morte. E a vida: voilá! Trouxe em uma bandeja de prata um coquetel de situações que não me deram outra opção a não ser enxergar o importante, o que realmente faz diferença. Abriu parte dos meus olhos – não ouso dizer ainda que ando enxergando bem esses sinais – com uma violência sem tamanho.
Vários textos narrando todas essas experiências acabaram por se formar e se desintegrar com a mesma rapidez. Não consegui ser rápida o suficiente pra colocá-los aqui. E escrevê-los agora não terá o mesmo valor e emoção do que se fossem escritos no momento em que a alegria ou a dor lancinante batiam a minha porta.
Mas como uma criança que coloca na latinha de biscoitos suas preciosidades ( botões, fitas, um carrinho, uma figurinha, uma bonequinha) e a guarda para todo o sempre – isso me faz lembrar do filme de Amelie Poulain – eu coleciono aqui as vivências desses meses que - como título de filme americano – não serão esquecidos jamais.
A história desses dois meses começa com um verdadeiro “porre” de paisagens lindíssimas. Penso até que qualquer vocábulo não consegue descrever a experiência de passar uns tempos na Nova Zelândia. As paisagens realmente dão uma overdose de beleza tão impressionante que a vontade de explodir a cada visão é natural. Junte a uma experiência dessas a convivência com pessoas formidáveis, amigos fabulosos, uma louca companheira e uma família pra lá de amorosa. Pela primeira vez na minha vida, não tive vontade de voltar para casa.
Até porque no final dessa experiência de estar vivenciando parte do paraíso eu fui arrastada pela vida – sempre ela – pra um dos pesadelos mais absurdos que já tive. Um pedaço meu, minha criação, foi preso injustamente em outro país. E eu do outro lado do mundo! Sem poder socorrer! Sem poder dar colo! Sem poder resolver!!! Nota: se vc quiser torturar uma pessoa controladora mostre a ela o quanto ela pode ser impotente perto de algumas situações. O embrulho no estômago, a tristeza que se instalou veio em igual proporção ao momento agradável que eu estava passando. Do céu, caí ao inferno a uma velocidade de 200/h.
Como se não bastasse, a vida, essa bruxa insaciável, me empurrou pra enfrentar dificuldades que há muito eu tinha esquecido e guardado numa caixinha pra não ter que lidar. O passado e todas as fraquezas e falta de habilidade em relacionamentos voltou, querendo que eu prestasse contas e pagasse à vista. Lá vai eu lembrar de relacionamentos fracassados e enfrentar a verdade: fora boa parte minha culpa. Pior, enfrentei uma pessoa cruel, rígida e intransigente: eu mesma. Entendi – de um jeito pra lá de doloroso – que eu não tinha me perdoado por várias atitudes. Era hora de prestar contas comigo e com a vida.
No meio dessa tempestade - que poderia ser hormonal como meu amigo explicou – ou mesmo de sentimentos, houve os momentos de anestesia breve. Momentos em que quando o que se mais queria era ficar sozinha, e um batalhão de pessoas que estava ao meu redor, respeitou silenciosamente só torcendo pra eu ficar de pé. Momentos em que o que eu mais desejava era um abraço – um só – e ele veio de graça, sem eu pedir, como por mágica.
Momentos em que gente que a gente nunca imagina estar tão ligada, acaba deixando claro o quanto nossa felicidade importa pra elas.
Momentos em que se descobre que amizades de meses podem se transformar em amizades de 20 anos.
Momentos de se descobrir pessoas que se tinham como conhecidas, com novas conclusões, novas reflexões e novos posicionamentos.
Descobertas e caminhadas interessantes no meio da escuridão da dor.
E a coisa foi caminhando. E eu me descobrindo em meio a ela, tentando a todo custo, falar a mesma língua dessa vida que estava sendo implacável comigo e com os que eu amo. Parece que ela dizia: “não aprendeu até agora, não há mais tempo. Vai ter que ser desse jeito”.
E nesse processo, o corpo vira do avesso, os órgãos ficam expostos – como bem explica a autora do livro que me ajudou nesses dias, Comer, rezar e amar – e é como se tudo que estava dentro fosse colocado pra fora pra que aconteça uma faxina completa. Humildemente obedeci. Não houve jeito. Peguei órgão por órgão e fui ajeitando, reorganizando. Não sem dor. E resolvi ter um papo comigo e acertar as pendengas que há tanto tempo eu arrastava. Falei pra mim que era hora de esquecermos certas diferenças e ir em frente, agora juntas.
Acho que funcionou. Apareceu força de onde eu não sabia que tinha. E a vida começou a brincar. A apontar. E eu conseguia ver e ouvir. Finalmente. A ponto de me colocar em um avião, no meio de dois rapazes que – absurdamente coincidente – tinham os nomes dos meus dois ex-maridos. Algo como se ela me dissesse: o passado foi. Agora é o pra frente. Chega de ficar olhando pra trás. Faça seu caminho!
Peguei o pacotinho ofertado por ela, abri e fiz cara de agradecida: ok, agora é o presente! Vamos lá!
E lá vem ela com outro recado:
- não sei dançar samba!
- não se preocupe. Vamos dançar música!
É isso. A vida é pra ser dançada. Não pensada, esquematizada, planejada, ensaiada. E ela dá. Dá tudo que pedimos. Então meu pedido agora é: quero me lambuzar no meu novo presente. Saboreá-lo, desgustá-lo. É meu, não é? Então com o indicador, vou começar pela cobertura, imaginando que o recheio desse meu presente é digno de mim.

Comentários

  1. Adorei teu blog, teus pensamentos...sempre vou passar por aqui (se não for incomodar rsrsrrs)
    Beijão Nívea ;)

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  2. Amiga-lhes... muito filósofa vc neste blog, hehehehe. Show!!!
    beijas...
    Katia

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