Fear - ou medo do que vc guarda pra mim

Ah! O medo...

O medo é o tal dispositivo de proteção humana que faz com que não nos joguemos de carros em movimento, abismos e prédios sem proteção, que evita que façamos loucuras com leões, ursos e tigres, que faz com que pensemos duas vezes na hora de decidir ir ou ficar, que faz com que olhemos pros dois lados da rua antes de atravessar, que faz com que evitemos alguns horários ou lugares, que faz com que desliguemos a chave da luz antes de mexer em algo elétrico, que faz com que evitemos alguns procedimentos que já sabemos que podem nos machucar...

Para alguns ele congela, limita, freia e reprime.

A relação que temos com o medo é sempre conflituosa. Já dizia um verso: pessoas corajosas não são as que não têm medo, mas as que o enfrentam. As que, mesmo com medo, vão em frente e fazem o que precisa ser feito.

Tenho chegado à conclusão que passamos a vida brigando com o medo. E que o tamanho dele é proporcional a nossa idade. Quando somos bebês, crianças, vemos o medo de cima, não nos parece assustador. Nada é assustador. Vamos crescendo - nos machucando de diversas formas - e deixamos ele ir tomando proporções maiores. Até que, em determinados momentos, ele nos sufoca, espreme. Vejo que quanto mais maduros ficamos, mais o medo tem força. Em todos os sentidos: desde aprender a andar de moto, se jogar de bungee-jump ou fazer uma coisa desconhecida, até a se envolver em experiências novas, conhecer gente nova, apostar em novas relações, o medo vai ficando maior. E ele congela, petrifica, sim. Se deixarmos.

Outra relação direta que temos com ele é a da experiência. Claro que ela vem com a idade. Conhecemos os riscos, nos queimamos/machucamos/cortamos várias vezes e sabemos o quanto isso dói. Por isso damos, gentilmente, passagem para o medo. Três amigos, essa semana, me falaram do medo. Do medo que sentem de repetir certas histórias, de se machucar, de se envolver. E aí ou paralisam-se, ou fogem do que poderia vir ou constroem mecanismos para se jogar, mas nem tanto. Aí entra a racionalidade e a experiência: "já passei por isso antes e não quero repetir esse processo"; "você precisa tomar cuidado para não se machucar. Já que há algo um pouco complicado, é melhor pular fora..."; "A escolha precisa ser racional, assim a gente tem condições de diminuir o risco de certas experiências ruins"... Enfim, mecanismos variados para evitar repetir sofrimentos...

E as perguntas que ficam: quanto o medo tem nos impedido de viver? Quanto ainda vamos repetir: melhor deixar quieto, melhor esperar, melhor pular fora, melhor evitar, melhor racionalizar, melhor avaliar bem, melhor pensar 34985954574597 vezes, melhor medir bem, melhor não ir, melhor não tentar... melhor?

Vai uma musiquinha da Calcanhoto pra ajudar da reflexão...

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