Pluntz, patss, tss.

 Pluntz, patss, tss.

4:30. Não era exatamente o momento que eu gostaria de estar acordando, mas o sono se foi e o som continuava.
- tatata,rata, puntz, pats tss, tss, tss.
De onde estaria vindo essa batucada?
-tss,tsss, pum, pa, ta ,rararara.
Aos poucos tomei consciência de onde eu estava. Não seria possível que exatamente quando o mundo todo (e isso não é figura de linguagem) está isolado, recolhido, quieto, alguém decidiu fazer uma batucadinha na rua. Era o único barulho que se ouvia acima dos exaustores do supermercado ao longe. O resto era tudo silêncio...
tum tum, pataratum tá, tss, tss, taram, tá
Era muito ritmado. Acordei de vez. Se o home office era para estar funcionando desde as 6 eu ia começar antes e terminar antes. Mas antes queria saber quem, afinal, estava batucando na rua a essa hora em meio a uma, nunca antes experienciada, quarentena.
ti pa tum tara, tss tss, puntz, pa ara tatatum ta.
Não aguentei. Abri a persiana da janela. Escrutinei os arredores com o olhar.
Tudo parado. A estação de trem vazia, o hotel aqui da frente só com o aviso na porta, solitário e solidário com as decisões da cidade. Tudo vazio. Nenhum carro, caminhão, nada. Nenhuma pessoa que podia ser vista. Nem os passáros estão acordados.
tum, tarapumpá, tss, tss, tss.
Afinei o ouvido para saber de onde o som vinha. Parecia ali, na minha frente, mas eu não via nada, nadinha. Nada se movia.
Revistei o chão. Ainda úmido da chuvarada de ontem. E ninguém poderia estar por ali. Animais? Não existem na rua aqui.
Pensei no galho da árvore que enrosca aqui em tempos de vento forte. Nah, o barulho é bem diferente. É um arranhado na parede da casa seguido de um estrondo do galho se chocando.
Essas casas daqui, nossa senhora! Nelas, se ouve tudo. Desde o movimento da madeira, na mudança de temperatura e as dilatações, ou qualquer caminhar hesitante ou ventinho que movimente uma porta.
tun tummrum, papa ratin tum, pum, pá, pss.
O som vinha da frente. De bem na frente do meu nariz. Dali de onde eu achava que não poderia vir nada. Dali aonde eu nunca prestei atenção. Nunca percebi. Nunca ouvi.
Nesse silêncio, uma calha solitária ao redor da estrutura do hotel reboava os últimos pingos de chuva que insistiam em se alojar no telhado.
paratantá, tss, tsss, pum, ramtam tá.
A calha solitária, sem a vida corrida, sem os humanos indo e vindo, fazia ali um sambinha na madrugada.
paratim tum tum pá.

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