wwoof Itália - segunda-feira - 21_03

No domingo de manhã o gás tinha acabado. Como estamos com pouquíssima internet (só em dois lugares específicos no vilarejo) e usar o telefone nem pensar porque é muito caro, achamos melhor resolvermos sozinhos. Vimos que tinha um botijão cheio ali fora mesmo e Greg foi lá e trocou. Depois avisaríamos o nosso chefe-anfitrião.

Na segunda, não foi preciso avisar. Era 7 horas da manhã e eu ouvi a voz dele longe, chegando perto e chacoalhando os botijões de gás. Já notou que trocamos. Eu que já estava meio pronta, saí para tentar falar com ele e o vi com mais quatro homens dando instruções sobre o edifício. Achei melhor não interromper. Hoje eu queria falar sobre a nossa missão. Eu sabia que o que tínhamos que fazer era continuar a cortar os galhos das vinhas e amarrá-los direito e colocar o adubo de compostagem nas vinhas. Mas tínhamos ainda lenha que ficou por cortar em pedaços pequenos no sábado. E aquilo me incomodava.
Todo dia uma foto diferente da saída de casa. Pra acompanhar a mudança das montanhas.

Brincando com o sépia no prédio vizinho

Quando nosso anfitrião finalmente veio falar com a gente contei nosso plano. Iríamos terminar a vinha em guio, almoçaríamos eu, Greg e Marco em nosso apartamentinho – porque Paolo iria para um curso – e depois iríamos para a casa dele para ir terminando a lenha até umas 4 da tarde, quando caminharíamos de Pranzo para Tenno a fim de descobrir outro caminho e esperar o amigo alemão que estava por chegar. Sim, porque Chris mais uma vez viria nos visitar.

(Parênteses sobre o Chris: Chris é amigo do Greg já mais de 10 anos. Eles moravam em Boston quando os dois começaram a escalar no mesmo ginásio de escalada. Depois Chris voltou para a Alemanha, Greg foi pro Chile, nos conhecemos e quando eu estava fazendo o doutorado-sanduíche em Sevilla ele convidou o amigo alemão para dar um pulo lá na mesma época que ele fosse me visitar. Era ano novo - 2013. E quando falo dar “dar um pulo”é isso mesmo porque na Europa é tudo assim, pertinho, se compararmos com Brasil. Pois bem, Chris é o alemão mais fofo que já conheci. Suuuper calmo, companheiro, virou amigo coletivo automaticamente. Depois ele foi nos visitar na Páscoa de 2013, levamos ele para Florianópolis e arredores. Em 2014 nos encontramos nos Estados Unidos, quando fomos fazer nossa cerimônia de casamento – ele não participou porque as agendas não combinaram, mesmo assim passamos dois dias juntos. A última vez foi o Natal e Ano Novo de 2015 em que ele foi nos visitar em Floripa/Curitiba. E ele vem para a Itália dessa vez, nos encontrar aqui. Podemos dizer que o Chris é o amigo mais encontrável em qualquer parte do mundo. 
Pois bem, como o gringo não dá ponto sem nó, é claro que ele ajeitou as coisas para escalar algumas dessas montanhas aqui perto com o parceiro-cidadão-do-mundo. Parecem crianças quando vão brincar. Ficaram se falando um monte de dias, compraram o guia de escalada da localidade, pesquisaram na internet e descobriram quatro mil rotas de escaladas nessa região que estamos, especialmente em Arco. Enfim, nossas tardes serão preenchidas daqui para frente com escaladas ou programas similares.)

Pois bem, terminei os engalhamentos das vinhas (eu consegui me cortar algumas vezes) e Greg espalhou a compostagem em cada vinha guio. O sentimento de satisfação foi ótimo e compensou um pouco o cansaço e a dor nas costas.
O galho mais forte fica preso para que os brotos cresçam para cima.

De volta ao apartamento, Marco tomou a frente. Queria cozinhar e como tínhamos poucas opções – eu tinha feito um minestrone no dia anterior mas ele queria cozinhar pasta com funghi – e o mercado estava fechado (loucura isso! Na segunda-feira, o único mercado não abre e o hotel/restaurante também não). Ele acabou fazendo bruschetas. Ficaram absolutamente divinas.
Dá pra ver que gente louca, atrai gente louca. Ainda bem que todo mundo cozinha bem.

Bruschetas com o que tínhamos

Marco nos levou a Pranzo, pulamos o muro da casa de Paolo – porque o portão estava chaveado – e começamos a trabalhar cortando as lenhas. Era umas 14h e finalmente consegui acessar a internet do município no lugar mais improvável – na frente da casa do anfitrião. Recebi a mensagem do whatsapp que Chris já estava em Arco, depois de 9h30 dirigindo da cidadezinha dele perto de Dusseldorf, na Alemanha, para cá. Avisamos onde estávamos e ele chegou em 40 minutos. Nada como os GPS de hoje em dia que possuem até os vilarejos medievais no arquivo...
Chris se encasacando com a blusa comprada em nosso primeiro encontro, em Sevilla.

Chris aqui, abraços e e notícias rápidas, levamos ele para dar uma olhada em Tenno, na igreja de Santa Maria que finalmente estava aberta e na ponta do burgo de Frapporta, onde está a igreja de San Lorenzo, de onde dá para ver todos os outros vilarejos embaixo. Voltamos ao nosso prédio e os contratados do anfitrião colocavam as toras de madeiras que tínhamos ido buscar em Ledro com ele para fazer a estrutura do teto. Impressionante como eles conseguem enfiar caminhão, grua e tudo o mais nessas ruelinhas...

Pegamos o carro e aproveitamos para dar um pulo lá no vale, ao redor de Arco, e fomos ao mercado. Todo mundo meio cansado e muito esfomeado. Aproveitamos e entregamos para o Chris o líquido que ele tanto gosta do Brasil e trouxemos para ele: cachaça. J
Outra coisa que percebi: é engraçado como com esse ritmo, sem TV, sem internet, a gente vai para cama mais cedo e levanta mais cedo também. O ritmo tem sido 22h (às vezes antes) às 6h, naturalmente. Em casa, se eu for para cama antes das 22h pode contar que estou doente. 
Bem, Chris foi para o hotel e nós para a cama. Amanhã é dia de terminar a lenha e de tarde explorar perto do Lago Riva Di Garda.



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