Wwoof Itália – 26_03 – sábado de Aleluia

Hoje foi nosso último dia de trabalho no campo. Mesmo super cansada de tudo, deu até uma certa nostalgia. Olhei cada plantinha pensando em como estariam dali a algum tempo. O trabalho hoje foi bem fácil. Fazer uma horta pequena com três tipos de verduras. Às 9h (era sábado, afinal) Marco apareceu, Paolo um pouco depois e fomos ao campo. Paolo deu uma aula sobre a horta sinérgica. Disse que plantamos lado a lado diferentes tipos de verduras que ajudam a manter uma a outra sem matos ou pragas. É como se fosse um controle natural da coisa. Fizemos os quadrados, Paolo começou e nos deixou aos cuidados de Marco. Nunca imaginei que ele seria tão detalhista. Passamos pelo menos uma hora e meia só nivelando os quadrados de 1,50m por 1,50m, tirando os matos que estavam embrulhados na terra, tirando as pedras maiores, jogando compostagem ora antes ora depois da semeadura... Semeamos chicória, salsinha e rabanete. Um do lado do outro. Jogamos água. Mais compostagem. Mais água. Daí ele foi com a pá, como se acariciasse as sementes lançadas apertando de leve o solo. Achei muita coisa, mas enfim, ele estava realmente cuidando das plantinhas. Exigi fotos de quando começassem a brotar.
O começo da horta.

Um sinal de que a terra é boa.

Os dois trabalhando na horta.

Greg na lida.

Pronta.

Em resumo foi o que fizemos nessa experiência: preparar tudo para a grande festa da brotação. Os botões das uvas, das olivas, estavam todos ali, acordando do inverno, só esperando um carinho, uma nutrição e a época certa para se desenvolver. Bem, fizemos parte desse ciclo, e me senti feliz mesmo sem poder ver os resultados na minha frente. Coloquei meus desejos de boa produção naquele lugar, além da minha energia braçal.
Depois da horta fomos limpar ao redor das folhas – alface - que já estava plantadas. O Greg foi cavocando, Marco também e eu com o rastelo fui tirando os matos já arrancados. Molhamos tudo. E acabou.
Dei uma última olhada para a vista do “escritório” sabendo que sentiria falta daquilo. Mas também com a certeza que aprendi um monte e que vou levar tudo isso comigo.
Fomos almoçar e conversamos bastante com Giuliana que está aprendendo inglês e pudemos contar estórias maiores. Paolo chegou logo depois, terminamos de comer e avisei que teríamos a celebração da entrega das aquarelas que o Greg fez para o Paolo. Eles brincaram durante a semana toda sobre isso. Paolo disse que queria uma “arte” do Greg. O gringo, por sua vez, achava que tudo que tinha feito aqui não estava bom. Paolo respondeu que ele queria mesmo não sendo bom, aliás, melhor, ele queria um não-bom e um bom.  Todo mundo riu, mas pedimos para o Chris escolher entre as aquarelas a “pior” e a “melhor”. Greg decidiu dá-las ao Paolo. Tiramos fotos e convidamos todos a nos visitar, onde estivermos. Com certeza manteremos contato.
Greg e Paolo e  aquarela Pranzo.

Giuliana, Greg, Paolo e Marco. As aquarelas Pranzo e praça de Tenno.

Foto do pequeno Matia com o nosso brinde.

O pequeno Matia tirou a foto do nosso brinde. Abrimos um frizante de produção própria para celebrar.
Comprei azeites da produção deles para levar para o Brasil, e quatro garrafas de vinhos (o máximo que podemos carregar na viagem) e acabei ganhando do nosso anfitrião. Disse a ele que não era justo, quase saímos no tapa, mas não teve jeito. Greg sempre disse que preciso aprender a receber. Mas quatro garrafas de vinho já é demais, né?
Depois, ajudamos Giuliana a preparar as batatas para mais tarde receberem visitantes (que estão acampando) para experimentar os vinhos e o Chris veio nos buscar. Era dia de visitar Trento.
Os meninos decidiram que já que me comportei na última escalada poderíamos passear. E eu queria ir à Trento mas não tinha visto chance de dar um pulo lá com a “agenda” já planejada.
Fomos pela rodovia que passa pelo Lago di Tenno. Vistas mais fantásticas ainda, neve ainda no chão nos lugares de sombra e paredões de montanhas por todos os lados. Uma loucura como o ser humano foi se embrenhando nessa natureza.
Chegamos a Trento. Praça principal lotada. Me senti a caipira num grande centro. O tal do fashion victimism que já tinham me falado que é comum na Itália, apareceu. Todo mundo super “in”. Adolescentes fumando para todos os lados, se sentindo super “cool”, todas maquiadas com batons fortes, delineador e mais ou menos a mesma roupagem de “sou o máximo”. Os meninos de piercing, óculos de sol baixo e aquela postura de “sou da turma”. E eu de jeans e jaqueta. A de sempre, usada para muito frio. Bem, demos uma volta na igreja Duomo, na praça do Poseidon/Netuno com o tridente na mão (aliás, tinha o tal do tridente em todo o lugar, depois perguntei para a Giuliana e ela me informou que Trento vem de três montanhas, por isso o símbolo), passamos por um rio que entra na cidade e vimos vários imigrantes negros na outra praça, a que tem uma estátua do Dante Aliguieri. Foi praticamente a primeira vez que vi negros por aqui. E pichações em todos os muros diziam que o problema não eram os imigrantes e sim o racismo. Coisa complicada de se lidar aqui também.
Paramos para um cappuccino com strudel na praça principal e descobrimos a super má-vontade dos garçons italianos. Fiz o meu pedido, Chris pediu o dele e Greg, pra variar estava na dúvida. 

Um cafezinho para o Chris...

Praça de Dante Alighieri 
Perguntamos se tinha croissant. O moço distraidérrimo, super fashion com uma franja enorme jogada para trás e o restante do cabelo raspado, disse que ia ver se havia croissant. Nunca mais veio. Veio um outro entregar o que  tínhamos pedido, sem o croissant, e eu pedi de novo. Nada. Ele foi e voltou mais umas quatro vezes rindo e batendo papo com a galera da outra mesa e eu ficando puta. Greg tentou me acalmar dizendo que a nossa professora de italiano tinha dito que seria assim. Eu não me conformei. Daqui a pouco ele veio de novo perguntando se poderia ser croissant de chocolate. Respondi que sim. Entregou um folhado de mirtilo. :/ Greg comeu e fomos embora. Eu não tinha aprendido os sempre super úteis palavrões em italiano...

Tentamos visitar o Castelo de Buonconsiglio  mas estávamos 20 minutos atrasados. As entradas para visita terminam às 17h. Demos mais algumas voltas para ver os palácios que ficavam na mesma rua do centro, que eram de famílias diferentes, a torre que era uma prisão, as pinturas renascentistas que ainda estão lá, meio apagadas mas lindas...
Igreja Duomo.

A adoração do sábado.

Praça do Tridente.

Castelo do Buonconsiglio

Pegamos o carro e demos outras voltas ao redor de bairros normais e tive a impressão de só ter apartamentos lá. Nada de casas. Pegamos a outra estrada, a highway, e voltamos para as eternas curvas de Tenno. Eu já tinha dito aos meninos que disso eu não terei saudade. Mesmo sempre indo no banco da frente do carro, chego em casa com o estômago embrulhado pelas trocentas curvas.

Jantamos risoto com peixe e falamos que amanhã será dia de escalada com Marco. Se tudo der certo, mais um será iniciado no esporte.

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