Wwoof Itália – domingo de Páscoa

Tive sonhos muito esquisitos. Mil estórias diferentes, várias, com vários enredos. Que incluíam desde a cã que deixamos em Curitiba quanto a Claire de House of Cards. Não me canso de me surpreender com a engenhosidade do nosso cérebro para criar enredos...

Às 8h30 Chris bateu a nossa porta e às 9h Marco chegou. Nos enfiamos no carro e fomos em direção ao norte, passamos o Lago de Tenno, e seguimos para Fiavé - Dasindo, numa localidade chamada Val Lomasone. O horário aqui mudou para horário de verão, então estávamos uma hora antes de tudo. Vi neve, de novo pelo chão e calculei que seria um dia meio dolorido. Chris deu o veredicto quando chegamos: 2 graus Celsius. Eu quase disse que ia escalar do carro. Mesmo assim, caminhamos para o paredão que devíamos encontrar e que tinha escaladas, milhares delas, com dificuldades 3, 4 e 5... e três delas eram 2... Claro que nos planos do Greg eu iria guiar pela primeira vez, aquelas com dificuldades 2, que eu imaginava que poderiam ser umas escadas...

Florzinhas brancas que fazem cia para as amarelas e roxas. Lindas!!

O caminho para a escalada.

As florzinhas.

A gente no frio, se preparando para escalar.

Marco, na sua primeira "descida". Ele subiu tão rápido que nem deu tempo de tirar foto. Ficou todo mundo com a boca aberta...

O estudante de guias de escalada.

Eu guiando uma dois...

Os escaladores multinacionais. Nossa equipe era a única que tinha 4 pessoas de 4 países diferentes.

Bem, chegamos, Greg com toda a paciência do mundo foi explicar para o Marco como seria, arrumamos os equipamentos e Chris foi guiando o primeiro 2... Fizemos. Marco fez o 2, com tênis normal, como se estivesse na sala de TV da casa dele. Subiu mais rápido que qualquer um de nós...
Ficamos todos de cara. E decidimos que ele se chamaria "lucertola" que significa lagartixa em italiano para quando Greg escrever no blog dele (ele conta das escaladas e põe apelidos em todo mundo).

Enfim, o dia foi passando, os meninos foram escolhendo as rotas, e eu pedi para fazer a seg de todo mundo. Não ia ser trouxa de ficar parada naquele frio da porra... Muita gente, de diversos países, como Alemanha, República Tcheca, Eslováquia, Áustria e da Itália mesmo. No final, estava todo mundo cansado e eu fui guiar a tal da 2 que o Greg queria que eu fizesse. Bem, eu meio que fiquei assim de não ter a corda me protegendo o tempo todo... Até perceber que ao meu lado, uma família inteira falava para um pequeno também chamado Marco (5 anos, no máximo) para ele se posicionar em rapel. Ele estava tendo um ataque de “paura” ali, chorando o pobrezinho. Do meu lado. Esqueci todos os medos e dúvidas sobre pedras soltas – havia muitas – gritei para Marco em inglês: which words I need to use in italian to calm him down??

Marco, como todo jovem desligado, não entendeu. Fui escolhendo as palavras e cheguei do lado do menininho – Chris fazendo a minha seg – dizendo:

- Anche io ho paura! Andiamo con me.

Ele parou de chorar, e começou a prestar atenção em mim. Enxugou as lágrimas e foi descendo. A mãe que estava motivando-o da base para descer tranqüilo, na verdade se deixar levar pela corda, falou para ele prestar atenção em mim.
Enfim, descemos. E descobri uma coisa: quando a coisa materna – que sei lá se é um instinto – aparece, qualquer medo ou preocupação com você mesmo vão embora. E aí você vira a pessoa mais corajosa da terra. Eu deveria dar um jeito de usar isso mais em coisas que tenho medo... Mas não acho que seria legal colocar meu filho em perigo só para fazer as coisas que preciso fazer... Enfim, preciso refletir sobre isso e como potencializar para conseguir certas missões. Pois bem, o resultado do dia? Umas 7 escaladas na média de todo mundo. Duas com dificuldade 4 em que xinguei muito, dedos ralados que vão gritar quando eu tomar um banho quente, vários roxos em vários lugares, duas câimbras, dor no corpo inteirinho...

Bem, Marco absolutamente amou a escalada. Dissemos ciao para ele, que manteremos contato, e viemos para casa. Acho que duas garrafas de vinho partilhadas aqui e mais um advil depois do banho vão ajudar a noite a ser um pouco melhor.
O pior? Amanhã tem escalada de novo.

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